ENTREVISTA A REVISTA VEJA
Consultor político lança livro sobre o uso da música nas campanhas eleitorais
Branca Nunes
"O jingle Ei, Ei, Eymael, do José Maria Eymael, prova que um bom jingle é apenas uma das ferramentas da campanha – ele jamais elegerá sozinho um candidato"
Um dos maiores especialistas brasileiros em marketing político, Carlos Manhanelli é apaixonado por tudo o que diz respeito a campanhas eleitorais. Há 37 anos, coleciona filmes, jingles, objetos e outros documentos relativos aos pleitos no Brasil.
Parte desse acervo serviu como fonte de pesquisa para seu 12º livro, Jingles eleitorais e marketing político – uma dupla do barulho, lançado na última semana. Nesta entrevista ao site de VEJA, o presidente da Associação Brasileira dos Consultores Políticos e professor do curso Máster em Assessoramento de Imagem e Consultoria Política da Pontifícia Universidade de Salamanca, na Espanha, fala sobre os principais jingles brasileiros, conta qual a importância deles nas campanhas políticas e analisa as estratégias de marketing dos principais candidatos à Presidência nas eleições de 2010.
Abaixo, os principais trechos da entrevista concedida por Manhanelli:
Por que escrever um livro sobre jingles políticos?
Durante o mestrado que fiz na Faculdade Metodista de São Paulo, percebi que não havia no país um único livro que analisasse de maneira completa os jingles políticos brasileiros. Assim, decidi que minha tese não se limitaria aos jingles, mas os localizaria dentro do contexto das campanhas eleitorais e situaria essas campanhas no momento histórico que o país estava passando. O resultado é um livro que conta a história do Brasil republicano a partir dos jingles eleitorais.
Como nasceu o jingle no Brasil?
A música Seu Julinho Vem, composta em 1929 por Francisco José Freire Júnior, pode ser considerada a pioneira. Foi a primeira vez que criaram uma canção exclusivamente para enaltecer determinadas características de um político. Antes, o que havia eram músicas satíricas ou de protesto, com críticas aos candidatos. Getúlio Vargas, adversário de Júlio Prestes naquela eleição, também inovou com a impressão de cartazes e o uso do rádio, embora de forma ainda bastante embrionária.
O que determina a qualidade de um jingle?
Um jingle bom é aquele que cai no gosto da população de tal maneira que se torna eterno. Numa campanha, cada ferramenta tem a sua função: os santinhos, os cartazes, o rádio, a propaganda eleitoral gratuita e as inserções na televisão. A do jingle é cair no gosto dos eleitores.
Quais os melhores jingles brasileiros?
O Varre, varre, varre vassourinha, do Jânio Quadros, é um dos maiores clássicos de todos os tempos. Ei, Ei, Eymael, do José Maria Eymael, prova que um bom jingle é apenas uma das ferramentas da campanha – ele jamais elegerá sozinho um candidato. Bota o retrato do velho, de Getúlio Vargas, também está entre essas preciosidades e tornou-se um hit carnavalesco da época. Lula lá é o último grande jingle brasileiro, tanto que sempre é reutilizado de alguma forma nas campanhas do Lula. Outro que merece destaque é o Eu vou jangar, criado para a campanha de João Goulart para a vice-presidência, em 1960. Naquela época, o presidente e o vice eram eleitos separadamente. O jingle permitia que as pessoas colocassem o seu próprio nome na letra da música. Eu, por exemplo, poderia cantar “Para Vice presidente, Manhanelli vai jangar, é Jango, é Jango. É o João Goulart”.
http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/manhanelli-jingle-bom-e-aquele-que-cai-no-gosto-do-eleitor
segunda-feira, 15 de agosto de 2011
MATÉRIA ESTADÃO
Por Isadora Peron, estadao.com.br,10/8/2011
Amador engajado dá lugar a expert em marketing
No fim da década de 1980, tanto o alfaiate José Raimundo de Castro quanto o músico Hilton Acioli não cobraram um centavo para escrever os jingles que se tornaram símbolos dos candidatos José Maria Eymael e Luiz Inácio Lula da Silva. Eram outros tempos. Hoje, há uma rede de profissionais especializada em, literalmente, transformar em música para os ouvidos as propostas dos candidatos. A maioria das empresas trabalha fazendo jingles comerciais e aproveita a época das eleições para faturar.
Ricardo Engels Garay, sócio da produtora Jinga, não fala em valores, mas diz que em ano de eleição é como se houvesse um mês a mais na receita da empresa. O publicitário PC Bernardes, dono da Amics Áudio, diz que as eleições municipais são um período melhor para as empresas do que quando há disputa para a Presidência. 'Em eleições para presidente e governador, você tem no máximo umas 60 campanhas grandes pelo País. Já nas municipais, você tem pelo menos umas mil que compensam. O mercado é maior.'
O professor do curso de publicidade do Mackenzie Adolpho Queiroz diz que essa profissionalização do que antes tinha ares de amadorismo pode ser uma das explicações de por que os jingles das eleições recentes não ficaram na memória do eleitor. 'Os marqueteiros tem utilizado técnicas e instrumentos muito parecidos e isso nivela as campanhas por baixo.'
O especialista em marketing político Carlos Manhanelli tem outra explicação: 'Os jingles que marcam mais são os das campanhas que estão mais aquecidas'. 'Por exemplo, o do Jânio Quadros na década de 60. Qualquer pessoa com mais de 40 anos, se você falar 'Varre, Varre', canta o resto. Depois, tivemos a campanha do Lula, que também foi altamente emocional. As outras não foram tão emotivas', avalia. 'Então, por melhor que seja o jingle, ele não gruda, não vira o famoso chiclete de ouvido.
http://estadao.br.msn.com/ultimas-noticias/amador-engajado-d%C3%A1-lugar-a-expert-em-marketing-1
Amador engajado dá lugar a expert em marketing
No fim da década de 1980, tanto o alfaiate José Raimundo de Castro quanto o músico Hilton Acioli não cobraram um centavo para escrever os jingles que se tornaram símbolos dos candidatos José Maria Eymael e Luiz Inácio Lula da Silva. Eram outros tempos. Hoje, há uma rede de profissionais especializada em, literalmente, transformar em música para os ouvidos as propostas dos candidatos. A maioria das empresas trabalha fazendo jingles comerciais e aproveita a época das eleições para faturar.
Ricardo Engels Garay, sócio da produtora Jinga, não fala em valores, mas diz que em ano de eleição é como se houvesse um mês a mais na receita da empresa. O publicitário PC Bernardes, dono da Amics Áudio, diz que as eleições municipais são um período melhor para as empresas do que quando há disputa para a Presidência. 'Em eleições para presidente e governador, você tem no máximo umas 60 campanhas grandes pelo País. Já nas municipais, você tem pelo menos umas mil que compensam. O mercado é maior.'
O professor do curso de publicidade do Mackenzie Adolpho Queiroz diz que essa profissionalização do que antes tinha ares de amadorismo pode ser uma das explicações de por que os jingles das eleições recentes não ficaram na memória do eleitor. 'Os marqueteiros tem utilizado técnicas e instrumentos muito parecidos e isso nivela as campanhas por baixo.'
O especialista em marketing político Carlos Manhanelli tem outra explicação: 'Os jingles que marcam mais são os das campanhas que estão mais aquecidas'. 'Por exemplo, o do Jânio Quadros na década de 60. Qualquer pessoa com mais de 40 anos, se você falar 'Varre, Varre', canta o resto. Depois, tivemos a campanha do Lula, que também foi altamente emocional. As outras não foram tão emotivas', avalia. 'Então, por melhor que seja o jingle, ele não gruda, não vira o famoso chiclete de ouvido.
http://estadao.br.msn.com/ultimas-noticias/amador-engajado-d%C3%A1-lugar-a-expert-em-marketing-1
quarta-feira, 27 de julho de 2011
Sem vassoura, sem janismo, Dilma faz o que o eleitor espera

Autor(es): Gabriel Manzano
O Estado de S. Paulo - 26/07/2011
Uma simples associação de ideias - quem fala em faxina fala em vassoura -, tem levado alguns políticos e analistas a fazer uma comparação entre Dilma Rousseff e o presidente Jânio Quadros, que ocupou sua cadeira por sete meses, há exatos 50 anos. Ela, com a disposição de fazer uma limpeza no ministério. Ele com o "varre, varre, vassourinha", mote de sua campanha e um dos símbolos com que construiu sua imagem política.
A comparação parece, a alguns estudiosos, imprecisa. "Ela começou sendo a mãezona, que daria continuidade à obra do governo anterior. Mas aos poucos está voltando ao que de fato é, uma gerentona", resume o consultor político Carlos Manhanelli. "Pode haver uma ligação entre sua faxina e a vassoura de Jânio, mas cada um tem caráter próprio", diz ele. "A limpeza que Jânio anunciava era moralista. Incluía a proibição de biquínis e da briga de galo. A visão de Dilma é mais técnica: ela afasta os que não servem porque o governo tem de funcionar".
Na mesma direção, o professor Charles Pessanha, que ensina ciência política na UFRJ, no Rio, acha que Dilma "está empenhada mesmo é em responder a um clamor público, do qual a imprensa é porta-voz". Tanto que, na sua faxina, que chama de reestruturação, ela toma cuidados. "Ela cobra explicações e escolhe as palavras, Mas faz o que a população aprova."
Otimista, Pessanha lembra, sobre o jogo com o Congresso, que a avassaladora maioria de Dilma no Congresso afasta o risco de isolamento. "Democracia é isso. Temos um governo plural, com limites. Os controles, como a CGU, funcionam bem e ela os vê como um recurso técnico."
O Estado de S. Paulo - 26/07/2011
Uma simples associação de ideias - quem fala em faxina fala em vassoura -, tem levado alguns políticos e analistas a fazer uma comparação entre Dilma Rousseff e o presidente Jânio Quadros, que ocupou sua cadeira por sete meses, há exatos 50 anos. Ela, com a disposição de fazer uma limpeza no ministério. Ele com o "varre, varre, vassourinha", mote de sua campanha e um dos símbolos com que construiu sua imagem política.
A comparação parece, a alguns estudiosos, imprecisa. "Ela começou sendo a mãezona, que daria continuidade à obra do governo anterior. Mas aos poucos está voltando ao que de fato é, uma gerentona", resume o consultor político Carlos Manhanelli. "Pode haver uma ligação entre sua faxina e a vassoura de Jânio, mas cada um tem caráter próprio", diz ele. "A limpeza que Jânio anunciava era moralista. Incluía a proibição de biquínis e da briga de galo. A visão de Dilma é mais técnica: ela afasta os que não servem porque o governo tem de funcionar".
Na mesma direção, o professor Charles Pessanha, que ensina ciência política na UFRJ, no Rio, acha que Dilma "está empenhada mesmo é em responder a um clamor público, do qual a imprensa é porta-voz". Tanto que, na sua faxina, que chama de reestruturação, ela toma cuidados. "Ela cobra explicações e escolhe as palavras, Mas faz o que a população aprova."
Otimista, Pessanha lembra, sobre o jogo com o Congresso, que a avassaladora maioria de Dilma no Congresso afasta o risco de isolamento. "Democracia é isso. Temos um governo plural, com limites. Os controles, como a CGU, funcionam bem e ela os vê como um recurso técnico."
A INTERNET NA POLÍTICA

DIÁRIO COMERCIO E INDUSTRIA
26/07/11 - 00:00 gt; POLÍTICA
26/07/11 - 00:00 gt; POLÍTICA
São Paulo - Ao intensificarem sua presença na Internet, os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) atendem a uma pressão que vem da militância partidária conectada à rede mundial de computadores e não necessariamente se dirigem a eleitores comuns. A observação é do professor Carlos Manhanelli, que dirige a Manhanelli Associados. - Recentemente, o tucano abriu no portal do instituto que leva seu nome (www.ifhc.org.br) debates acerca dos problemas do País, enquanto o petista, que voltou a viajar pelo Brasil autointitulando-se "o defensor número um das causas sociais", tem veiculado vídeos e a íntegra de seus discursos no endereço eletrônico do Instituto da Cidadania (www.institutocidadania.org.br).
"Eles [Fernando Henrique e Lula] estão se posicionando como líderes de massa que são. Um político do porte deles é um líder que, como tal, deve externar o que pensa e informar os seus liderados. Essas iniciativas deles são uma resposta à militância e aos eleitores mais conscientes, que estão conectados à rede", defende o estudioso.
Manhanelli, que preside a Associação Brasileira de Consultores de Marketing Político (Abcop), afirma ainda que não se pode medir qual dos dois ex-ocupantes do Palácio do Planalto está em vantagem. Ele argumenta que o uso da Internet por políticos ainda é "um laboratório".
"Eu utilizei a Internet como consultor político nas eleições de 1996, e eu penso que, de lá para cá, a legislação brasileira retardou a cada eleição o uso da Web como ferramenta para buscar votos. A Web, de lá para cá, virou um grande laboratório. Não dá pra medir quem sai na frente nessa corrida porque a Internet ainda não é um veículo popular como são televisão, rádio e jornal hoje", pondera.
Já o coordenador do curso de Direito Digital da GV Law, Renato Opice Blum, afirma que o perfil do internauta brasileiro é diverso do dos demais.
"O internauta brasileiro é mais interativo, participa ativamente de redes sociais e de fóruns, e é aquele que passa mais tempo conectado à Internet. Eles [Fernando Henrique e Lula] até podem estar se dirigindo à militância, mas essa comunicação, com o passar do tempo, pode ser ampliada a outros nichos específicos", aponta.
"Eles [Fernando Henrique e Lula] estão se posicionando como líderes de massa que são. Um político do porte deles é um líder que, como tal, deve externar o que pensa e informar os seus liderados. Essas iniciativas deles são uma resposta à militância e aos eleitores mais conscientes, que estão conectados à rede", defende o estudioso.
Manhanelli, que preside a Associação Brasileira de Consultores de Marketing Político (Abcop), afirma ainda que não se pode medir qual dos dois ex-ocupantes do Palácio do Planalto está em vantagem. Ele argumenta que o uso da Internet por políticos ainda é "um laboratório".
"Eu utilizei a Internet como consultor político nas eleições de 1996, e eu penso que, de lá para cá, a legislação brasileira retardou a cada eleição o uso da Web como ferramenta para buscar votos. A Web, de lá para cá, virou um grande laboratório. Não dá pra medir quem sai na frente nessa corrida porque a Internet ainda não é um veículo popular como são televisão, rádio e jornal hoje", pondera.
Já o coordenador do curso de Direito Digital da GV Law, Renato Opice Blum, afirma que o perfil do internauta brasileiro é diverso do dos demais.
"O internauta brasileiro é mais interativo, participa ativamente de redes sociais e de fóruns, e é aquele que passa mais tempo conectado à Internet. Eles [Fernando Henrique e Lula] até podem estar se dirigindo à militância, mas essa comunicação, com o passar do tempo, pode ser ampliada a outros nichos específicos", aponta.
sexta-feira, 15 de julho de 2011
JINGLES ELEITORIAS E MARKETING POLÍTICO

Publicado em 14/07/2011 - 10:04 por mara.cristina
Hoje, quando a tecnologia e as redes sociais permitem debates cada vez mais amplos a respeito da política, os candidatos a cargos no Executivo precisam usar todas as armas possíveis para conquistar o eleitor. Entre elas, uma se destaca: o jingle. Verdadeiro símbolo das campanhas, o jingle benfeito pode ser decisivo para a conquista de uma vaga – seja na prefeitura, no governo estadual ou na presidência da República.
Partindo da importância do jingle como ferramenta, Carlos Manhanelli lança Jingles eleitorais e marketing político – Uma dupla do barulho (Summus Editorial, 248p., R$ 55,90). A obra realiza um estudo profundo das músicas de campanha veiculadas nas eleições presidenciais diretas entre 1930 e 2010.
Com origem no rádio do início do século XX, o jingle conquistou rapidamente as massas e logo provou seu poder de fogo. A transição para a TV se deu sem percalços e em poucas décadas a produção de músicas eleitorais se profissionalizou. Atualmente, não se fazem boas campanhas sem que sejam contratados diversos profissionais envolvidos na criação de jingles.
“Para ser considerados bons, eles precisam, entre outras características, ter ritmo, melodia, emoção e adequar-se às características do eleitorado”, afirma Manhanelli, que é especialista em marketing político.
O livro começa discutindo o conceito de marketing e fazendo distinção entre o marketing político e o eleitoral. Enquanto o primeiro tem objetivos de longo prazo, o segundo concentra-se no momento da campanha e busca atingir objetivos mais rapidamente. Em seguida, Manhanelli investiga as origens do jingle no Brasil e, na sequência, analisa as campanhas presidenciais diretas realizadas entre 1930 e 2010.
O autor analisa o contexto histórico de cada época, traça o perfil dos principais candidatos e reproduz os jingles mais famosos, analisando suas marcas discursivas.
De Getulio Vargas a Dilma Roussef, Manhanelli estabelece uma relação direta entre as boas músicas de campanha e as vitórias eleitorais, mostrando, ainda, erros que nunca poderiam ter sido cometidos.
Verdadeiro mergulho na história do nosso país, o livro conta ainda com jingles magistrais de diversas campanhas, selecionados pelo autor ao longo de décadas de pesquisas. “Embora meu público-alvo seja composto de estudantes de comunicação, marketing, publicidade e propaganda, consultores e coordenadores de campanhas, políticos e assessores, procurei escrever um livro acessível também àqueles que se interessam pela história recente do nosso país”, diz o autor. “Conhecer a forma como as campanhas são feitas é importante para a consolidação da democracia”, conclui.
O autor
Formado em Administração de Empresas, com cursos de especialização em Sociologia, Ciência Política e Marketing e MBA em Marketing pela Universidade de São Paulo (USP), Carlos Manhanelli é mestre em Comunicação pela Universidade Metodista de São Paulo (Umesp) e professor titular da Universidade Pontifícia de Salamanca (Espanha). Especialista no uso das pesquisas para desenhar a estratégia dos candidatos a cargos eletivos, é jornalista, radialista, conferencista e palestrante renomado, além de autor de vários livros, entre eles Eleição é guerra – Marketing para campanhas eleitorais, Estratégias eleitorais – Marketing político e Marketing pós-eleitoral, todos editados pela Summus.
segunda-feira, 6 de junho de 2011
Serra terá dificuldades de emplacar candidatura à Presidência em 2014

01/06/11 - 00:00 POLÍTICA
Diário Comercio e Industria - DCI
Diário Comercio e Industria - DCI
São Paulo O Conselho Político criado pelo PSDB para acolher o ex-governador de São Paulo José Serra não será suficiente para alavancar a pretensão do paulista quanto a uma terceira candidatura à Presidência em 2014. - O consultor de marketing político Carlos Manhanelli, da Manhanelli Associados, comenta que o órgão, criado para alinhavar coligações e candidaturas, não substitui a Executiva. "Essa instância partidária é nova e, pela legislação que rege os partidos políticos, não pode diminuir a importância da Executiva partidária na tomada de decisões", registra.Já o professor da Universidade de Brasília (UnB) David Fleischer concorda que o Conselho "foi criado às pressas". No entanto, diz que Serra é um obstinado e não vai abandonar seu projeto. "Serra vai tentar capitalizar os 40 milhões de votos conquistados no ano passado", justifica. O cientista da UnB pondera ainda que o ex-governador de São Paulo alimenta esperanças para 2014 inspirado pelo fato de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva só conseguiu vencer uma eleição presidencial na quarta tentativa. Fleischer observa, no entanto, que, ao contrário de Serra, Lula jamais teve adversários dentro do PT. "Lula só conseguiu se candidatar por tantas vezes e se eleger em 2002 porque houve um consenso no PT de que ele era o único candidato. Já Serra, sem mandato, tentará dividir a preferência com Aécio Neves, que terá a tribuna do Senado para ser a voz da oposição", aponta o professor da UnB. O professor Carlos Manhanelli enumera ainda que Serra tem dificuldades na disputas nacionais com o PT. "Se Serra conseguir se lançar em 2014, certamente o PT vai contragolpear, lançando o ex-presidente Lula para enfrentá-lo", projeta.Os dois cientistas convergem ainda ao apontar que Aécio conseguiu formatar uma boa composição da Executiva. "Os paulistas só ficaram com a vice-presidência [com o ex-governador Alberto Goldman] e o Conselho Político, destinado a Serra", flagra Fleischer.O Instituto Teotônio Vilela ficou com o ex-senador Tasso Jereissati (CE) enquanto a secretaria-geral permaneceu com o deputado federal Rodrigo de Castro (MG). Ambos, assim como o presidente reeleito Sérgio Guerra, são aliados do mineiro.
segunda-feira, 2 de maio de 2011
O VANTAJOSO MERCADO DO MARKETING POLÍTICO
Coluna Mac Margolis
O Estado de S. Paulo » 2011 » 04 » 24 »
Minérios, energia, aviões - e consultoria política. A pauta de exportação das nações da América Latina já está maior e bem mais sofisticada. Tempos atrás, a política abaixo da linha do Equador era pouco complicada, definida por embates de figurões cuja ascensão e queda dependiam dos arranjos de um punhado de poderosos provinciais ou do "dedo" do caudilho nacional. A democracia mudou tudo.
Com eleições pautadas quase a cada ano, a política eleitoral se transformou em mercado livre. Os pretendentes aos palácios e tribunas não são mais príncipes herdeiros à espera da unção oficial, mas mercadorias a serem analisadas por clientes cada vez mais criteriosos. Antes de depositar seu voto, os eleitores - mais de 300 mil em toda a região - exigem ver o peso. É quando aparece consultor de campanha política, cuja arte já desponta como uma especialidade latino-americana.
Não faz muito tempo que os maiores estrategistas de campanha eram americanos. Afinal, com tradição secular, a democracia dos Estados Unidos aprimorou sua técnica. Quem cuida do espetáculo são os "spin doctors" - os "doutores" de marketing - que examinam o eleitorado, monitoram os sinais vitais da campanha e prescrevem estratégias vencedoras.
São homens Dick Morris, James Carville, Rob Allyn e Karl Rove. Analistas que saíram dos bastidores para se tornar protagonistas da política dos EUA e, depois, do mundo. A América Latina era cliente fiel, consumindo caríssimos conselheiros gringos. O presidente do México, Felipe Calderón, contratou Dick Morris, ex-guru de campanha do ex-presidente Bill Clinton; Ravi Singh, especialista em campanhas na internet, atuou no Mexico, na Colômbia e na campanha do ex-candidato José Serra no ano passado.
Hoje os marqueteiros falam espanhol e português, sem sotaque. Com a volta da democracia, um mercado gigante se abriu para assessorar candidatos locais, estaduais e nacionais. Os estudiosos latinos absorveram técnicas avançadas de estatística, pesquisa de opinião pública, demografia e comunicação.
"Campanhas políticas exigem dados demográficos de alta precisão e o Brasil faz censos de primeira classe desde os anos 40 e 50", diz o analista político Amaury de Souza.
Mais do que técnicas, os consultores "nativos" têm a vantagem da fluência cultural, conhecimento dos códigos e gíria locais. Dificilmente um guru de spin americano ou europeu teria o gingado ou o ouvido para as nuances e timbres da política de Guayaquil ou Salta, muito menos o tempo e paciência para dominá-las. Não me esquecerei tão cedo de James Carville, careca e gigante, quase batendo a cabeça na porta do avião da Varig, enquanto, pelo celular xingava a empresa, o país e o Cristo Redentor pelo atraso do seu voo para Nova York. E, quando dispõem de tempo, cobram fábulas.
Não que as campanhas latinas sejam bagatelas. Um candidato à presidência no México precisa desembolsar dezenas de milhões de dólares e, no Brasil, centenas de milhões. Mas há muitas eleições menores, de prefeitos, vereadores e deputados que procuram assessoria à sua medida.
A oportunidade criou o mercado. Milhares os consultores voadores latinos vendem estratégia de campanha, seja em casa ou em países vizinhos. O Cuarto de Guerra, consultoria mexicana, ajudou a eleger o presidente equatoriano, Rafael Correa, em 2006. Ano passado, a poucos meses da eleição presidencial na Colômbia, o governista Juan Manuel Santos perdia feio para o carismático candidato verde Antanas Mockus. Contratou o exótico consultor venezuelano J.J. Rendon, que veste trajes pretos de samurai e fuma sem parar, e virou o pleito, ganhando de lavada.
Há anos, os brasileiros - especialistas no ramo - cruzam o Atlântico para aconselhar políticos na África portuguesa, com excelentes resultados. Às vezes, as condições de trabalho são extremamente difíceis. O estrategista Carlos Manhanelli cita como exemplo o candidato a prefeito moçambicano que foi expulso da legenda a oito dias da votação por ciumeira do líder do partido. Os marqueteiros brasileiros lançaram-no candidato independente e repaginaram sua campanha, levando- o a vitória.
O spin também é nosso.
É COLUNISTA DO "ESTADO", CORRESPONDENTE DA REVISTA "NEWSWEEK
O Estado de S. Paulo » 2011 » 04 » 24 »
O Estado de S. Paulo » 2011 » 04 » 24 »
Minérios, energia, aviões - e consultoria política. A pauta de exportação das nações da América Latina já está maior e bem mais sofisticada. Tempos atrás, a política abaixo da linha do Equador era pouco complicada, definida por embates de figurões cuja ascensão e queda dependiam dos arranjos de um punhado de poderosos provinciais ou do "dedo" do caudilho nacional. A democracia mudou tudo.
Com eleições pautadas quase a cada ano, a política eleitoral se transformou em mercado livre. Os pretendentes aos palácios e tribunas não são mais príncipes herdeiros à espera da unção oficial, mas mercadorias a serem analisadas por clientes cada vez mais criteriosos. Antes de depositar seu voto, os eleitores - mais de 300 mil em toda a região - exigem ver o peso. É quando aparece consultor de campanha política, cuja arte já desponta como uma especialidade latino-americana.
Não faz muito tempo que os maiores estrategistas de campanha eram americanos. Afinal, com tradição secular, a democracia dos Estados Unidos aprimorou sua técnica. Quem cuida do espetáculo são os "spin doctors" - os "doutores" de marketing - que examinam o eleitorado, monitoram os sinais vitais da campanha e prescrevem estratégias vencedoras.
São homens Dick Morris, James Carville, Rob Allyn e Karl Rove. Analistas que saíram dos bastidores para se tornar protagonistas da política dos EUA e, depois, do mundo. A América Latina era cliente fiel, consumindo caríssimos conselheiros gringos. O presidente do México, Felipe Calderón, contratou Dick Morris, ex-guru de campanha do ex-presidente Bill Clinton; Ravi Singh, especialista em campanhas na internet, atuou no Mexico, na Colômbia e na campanha do ex-candidato José Serra no ano passado.
Hoje os marqueteiros falam espanhol e português, sem sotaque. Com a volta da democracia, um mercado gigante se abriu para assessorar candidatos locais, estaduais e nacionais. Os estudiosos latinos absorveram técnicas avançadas de estatística, pesquisa de opinião pública, demografia e comunicação.
"Campanhas políticas exigem dados demográficos de alta precisão e o Brasil faz censos de primeira classe desde os anos 40 e 50", diz o analista político Amaury de Souza.
Mais do que técnicas, os consultores "nativos" têm a vantagem da fluência cultural, conhecimento dos códigos e gíria locais. Dificilmente um guru de spin americano ou europeu teria o gingado ou o ouvido para as nuances e timbres da política de Guayaquil ou Salta, muito menos o tempo e paciência para dominá-las. Não me esquecerei tão cedo de James Carville, careca e gigante, quase batendo a cabeça na porta do avião da Varig, enquanto, pelo celular xingava a empresa, o país e o Cristo Redentor pelo atraso do seu voo para Nova York. E, quando dispõem de tempo, cobram fábulas.
Não que as campanhas latinas sejam bagatelas. Um candidato à presidência no México precisa desembolsar dezenas de milhões de dólares e, no Brasil, centenas de milhões. Mas há muitas eleições menores, de prefeitos, vereadores e deputados que procuram assessoria à sua medida.
A oportunidade criou o mercado. Milhares os consultores voadores latinos vendem estratégia de campanha, seja em casa ou em países vizinhos. O Cuarto de Guerra, consultoria mexicana, ajudou a eleger o presidente equatoriano, Rafael Correa, em 2006. Ano passado, a poucos meses da eleição presidencial na Colômbia, o governista Juan Manuel Santos perdia feio para o carismático candidato verde Antanas Mockus. Contratou o exótico consultor venezuelano J.J. Rendon, que veste trajes pretos de samurai e fuma sem parar, e virou o pleito, ganhando de lavada.
Há anos, os brasileiros - especialistas no ramo - cruzam o Atlântico para aconselhar políticos na África portuguesa, com excelentes resultados. Às vezes, as condições de trabalho são extremamente difíceis. O estrategista Carlos Manhanelli cita como exemplo o candidato a prefeito moçambicano que foi expulso da legenda a oito dias da votação por ciumeira do líder do partido. Os marqueteiros brasileiros lançaram-no candidato independente e repaginaram sua campanha, levando- o a vitória.
O spin também é nosso.
É COLUNISTA DO "ESTADO", CORRESPONDENTE DA REVISTA "NEWSWEEK
O Estado de S. Paulo » 2011 » 04 » 24 »
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