Coluna Mac Margolis
O Estado de S. Paulo » 2011 » 04 » 24 »
Minérios, energia, aviões - e consultoria política. A pauta de exportação das nações da América Latina já está maior e bem mais sofisticada. Tempos atrás, a política abaixo da linha do Equador era pouco complicada, definida por embates de figurões cuja ascensão e queda dependiam dos arranjos de um punhado de poderosos provinciais ou do "dedo" do caudilho nacional. A democracia mudou tudo.
Com eleições pautadas quase a cada ano, a política eleitoral se transformou em mercado livre. Os pretendentes aos palácios e tribunas não são mais príncipes herdeiros à espera da unção oficial, mas mercadorias a serem analisadas por clientes cada vez mais criteriosos. Antes de depositar seu voto, os eleitores - mais de 300 mil em toda a região - exigem ver o peso. É quando aparece consultor de campanha política, cuja arte já desponta como uma especialidade latino-americana.
Não faz muito tempo que os maiores estrategistas de campanha eram americanos. Afinal, com tradição secular, a democracia dos Estados Unidos aprimorou sua técnica. Quem cuida do espetáculo são os "spin doctors" - os "doutores" de marketing - que examinam o eleitorado, monitoram os sinais vitais da campanha e prescrevem estratégias vencedoras.
São homens Dick Morris, James Carville, Rob Allyn e Karl Rove. Analistas que saíram dos bastidores para se tornar protagonistas da política dos EUA e, depois, do mundo. A América Latina era cliente fiel, consumindo caríssimos conselheiros gringos. O presidente do México, Felipe Calderón, contratou Dick Morris, ex-guru de campanha do ex-presidente Bill Clinton; Ravi Singh, especialista em campanhas na internet, atuou no Mexico, na Colômbia e na campanha do ex-candidato José Serra no ano passado.
Hoje os marqueteiros falam espanhol e português, sem sotaque. Com a volta da democracia, um mercado gigante se abriu para assessorar candidatos locais, estaduais e nacionais. Os estudiosos latinos absorveram técnicas avançadas de estatística, pesquisa de opinião pública, demografia e comunicação.
"Campanhas políticas exigem dados demográficos de alta precisão e o Brasil faz censos de primeira classe desde os anos 40 e 50", diz o analista político Amaury de Souza.
Mais do que técnicas, os consultores "nativos" têm a vantagem da fluência cultural, conhecimento dos códigos e gíria locais. Dificilmente um guru de spin americano ou europeu teria o gingado ou o ouvido para as nuances e timbres da política de Guayaquil ou Salta, muito menos o tempo e paciência para dominá-las. Não me esquecerei tão cedo de James Carville, careca e gigante, quase batendo a cabeça na porta do avião da Varig, enquanto, pelo celular xingava a empresa, o país e o Cristo Redentor pelo atraso do seu voo para Nova York. E, quando dispõem de tempo, cobram fábulas.
Não que as campanhas latinas sejam bagatelas. Um candidato à presidência no México precisa desembolsar dezenas de milhões de dólares e, no Brasil, centenas de milhões. Mas há muitas eleições menores, de prefeitos, vereadores e deputados que procuram assessoria à sua medida.
A oportunidade criou o mercado. Milhares os consultores voadores latinos vendem estratégia de campanha, seja em casa ou em países vizinhos. O Cuarto de Guerra, consultoria mexicana, ajudou a eleger o presidente equatoriano, Rafael Correa, em 2006. Ano passado, a poucos meses da eleição presidencial na Colômbia, o governista Juan Manuel Santos perdia feio para o carismático candidato verde Antanas Mockus. Contratou o exótico consultor venezuelano J.J. Rendon, que veste trajes pretos de samurai e fuma sem parar, e virou o pleito, ganhando de lavada.
Há anos, os brasileiros - especialistas no ramo - cruzam o Atlântico para aconselhar políticos na África portuguesa, com excelentes resultados. Às vezes, as condições de trabalho são extremamente difíceis. O estrategista Carlos Manhanelli cita como exemplo o candidato a prefeito moçambicano que foi expulso da legenda a oito dias da votação por ciumeira do líder do partido. Os marqueteiros brasileiros lançaram-no candidato independente e repaginaram sua campanha, levando- o a vitória.
O spin também é nosso.
É COLUNISTA DO "ESTADO", CORRESPONDENTE DA REVISTA "NEWSWEEK
O Estado de S. Paulo » 2011 » 04 » 24 »
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Prezados Colegas, boa noite!
ResponderExcluirVez por outra trabalho em algumas campanhas....apoio estratégico posicional.....e infelizmente a dificuldade de se lidar com os palpiteiros/puxa-sacos/amém de ocasião atrapalha um pouco, sem mencionar as segundas e ou terceiras damas (candidatas) que aparecem de sopetão....igualmente complicado é o pessoal entender a importância das qualitativas na projeção de intenções ocultas......enfim uma boa paginada com o tempero de sempre $$$$$$$$ operam alguns milagres.....graças em parte à notória memória de curto prazo do eleitor brasileiro....24 horas antes da eleição! hahahahahaha fica o meu abraço aos amigos que trabalham neste complexo ramo da consultoria política....saudades da MÃE DINAH!!
Abraço a todos e cuidado com a carteira na visita ao conselho de ética no olímpo....
Celso Chini
Prezados colegas.
ResponderExcluirFazer trabalho de marketing político-eleitoral no estado da Bahia, principalmente o marketing pós-eleitoral nas administrações publicas municipais, não é nada fácil, primeiro os prefeitos ignora a existência do marketing político, os assessores mais próximo do prefeito além de ignorar tenta de todas as formas queimar o consultor político achando que somos uma ameaça a seu cargo. Em minha opinião esse quadro só mudaria se houvesse vários congressos, seminários, encontros, palestras coisas assim, para mostrar e conscientizar os governantes da importância do marketing político no governo e nas campanhas eleitorais.
Osvaldo Almeyda
www.politicaemdestaque.com