Há
muito tempo o jargão utilizado por brasileiros era: O que é bom para os Estados
Unidos é bom para o Brasil.
Alguns
brasileiros ainda têm isso como pura verdade.
Mas,
até onde isso realmente pode ser verdade?
Na
politica, e nas campanhas eleitorais, muito se tem copiado o que os americanos
fazem para fazer também aqui no Brasil.
Há
pouco tempo tivemos o caso da Cambridge Analytica, onde se revelou o escândalo
da captura de informações do Facebook para fins eleitorais na campanha de Trump.
Uma
empresa nacional chegou a fechar acordo para trazer isso para as campanhas
eleitorais aqui do Brasil, mas com o escândalo e sua repercussão, teve que
cancelar esse acordo.
Nas
campanhas do Presidente Obama, chegou aos nossos ouvidos de que a Internet foi
o grande eleitor da campanha presidencial americana.
Eu
estive nos Estados Unidos acompanhando as três ultimas campanhas presidenciais
americanas dentro da George Washington University’, juntamente com 15
consultores políticos brasileiros, aonde os estrategistas das duas principais
campanhas vieram nos mostrar as estratégias e os últimos spots usados na TV e
rádio para convencer os eleitores.
Em
uma das palestras destes estrategistas, um deles chamou a atenção dos consultores
brasileiros presentes e nos alertou no seguinte sentido (isso na reeleição do
Presidente Obama):
Vocês
no Brasil compraram a ideia de que a campanha do Presidente Obama teve a
internet como grande ferramenta de cooptação de votos e persuasão de eleitores.
Devo dizer que vocês estão enganados. A internet ajudou sim, e muito a
campanha, mas atentem-se para duas diferenças fundamentais entre a politica nos
Estados Unidos e a política no Brasil: Aqui nos Estados Unidos a politica tem
uma visão positiva, ou seja, as pessoas torcem e apostam em seus candidatos
buscando-os na internet.
No
Brasil a visão de politica é negativa.
Aqui
nos Estados Unidos a TV e o Rádio são pagos, ou seja, cada segundo de
propaganda eleitoral é pago pelo candidato e não tem horário eleitoral
gratuito.
Isso
posto, pela política americana ter uma visão positiva, os eleitores entram na
internet para doar dinheiro a seus candidatos.
Um
americano entra no site do candidato e autoriza o debito em seu cartão de
crédito, da parcela de 10 dólares por mês até chegar em 100 dólares, para que
seu candidato o represente.
Esse
dinheiro é usado para pagar todas as contas da campanha, inclusive TV e Rádio.
No
Brasil, por ter uma visão negativa de política, é cultural no eleitor querer
tirar alguma coisa do candidato. Mas isso não é culpa apenas do eleitor.
Até
pouco tempo, candidatos davam bola de futebol, camisa para time, chaveiros,
canetas, rodada e grades de cerveja e todo tipo de brinde. Ou seja, o eleitor
acostumou a receber e tirar alguma coisa do candidato e nunca a dar alguma
coisa para ele ou para sua campanha.
Isso
se tornou cultural e ainda vai demorar um pouco para tirar esse vício dos
eleitores. (ou síndrome de Gerson: levar vantagem em tudo)
Falei
tudo isso para chegar à vaquinha virtual, que foi autorizada pela nova
legislação a ser feita para arrecadar fundos para campanhas eleitorais, e que
pode começar a arrecadação agora em 15 de Maio.
A
vaquinha virtual vem substituir a doação de empresas para candidatos.
A
contribuição a candidatos, pelos eleitores, é uma atitude altamente democrática
e louvável em campanhas eleitoras. O que nos resta é torcer por uma mudança de
cultura do eleitor que, em muitos casos. ainda vê o candidato como fonte de
recursos materiais e não como seu legitimo representante na esfera política.
Que
venha a vaquinha, mas que venha em formato transparente e legalizado, para ser
uma ferramenta democrática e não mais uma forma de esconder recursos de
campanha.
Estamos
aqui torcendo para que a vaca não vá para o brejo.
Carlos
Manhanelli, Jornalista, Mestre em Comunicação, Consultor Político e Presidente
da ABCOP Associação Brasileira dos Consultores Políticos.