quarta-feira, 16 de maio de 2012

Brasil exporta marketing político para presidenciais de Angola

Entrevista ao Jornal Alemão WD a voz da Alemanha.

O especialista em marketing político Carlos Manhanelli tem 38 anos de experiência no setor, fala sobre o funcionamento dessa ferramenta eleitoral e conta detalhes de como o recurso pode mudar um candidato.



Angola se prepara para eleições diretas marcadas, inicialmente, para o mês de setembro. A população poderá eleger seus deputados diretamente e o presidente, de forma indireta. A partir de uma reforma na constituição, aprovada em 2010, o primeiro nome da lista partidária mais votada nas eleições parlamentares se torna o presidente do país, sem a necessidade de uma eleição presidencial direta.


O MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), partido da situação, já anunciou José Eduardo dos Santos, que preside Angola desde 1979, como cabeça de chapa. A Unita (União Nacional para a Independência Total de Angola), principal partido da oposição, ainda não oficializou um nome.


Os partidos devem apostar em estratégias profissionais de marketing político para vencer a corrida das urnas e, nesse campo, haverá uma participação brasileira.


A repetir o que já havia feito em 2008, o presidente José Eduardo dos Santos chamou marqueteiros experientes para reforçar sua campanha. Na primeira vez, veio Duda Mendonça e, agora, João Santana e Wagner de Morais.


Os profissionais que têm no currículo campanhas do ex-presidente brasileiro Luiz Inacio Lula da Silva e da atual presidente, Dilma Roussef, vão integrar a equipe de trabalho do MPLA.


A figura de Lula e o medo


Especialista em marketing político com 16 livros publicados sobre o tema, Carlos Manhanelli é presidente da Associação Brasileira de Consultores Políticos, acompanhou as mudanças que os profissionais de marketing podem fazer nos rumos de uma campanha e cita o exemplo do ex-presidente brasileiro Lula.


De acordo com Manhanelli, o grande problema de Lula era o medo que as pessoas tinham de votar nele. “Por que a figura do Lula era um arquétipo da figura Che Guevara”.


O especialista explica que, quando Duda Mendonça, profissional de marketing conhecido no Brasil, entrou em cena, ele percebeu que o medo era derivado da figura de Lula e não da história do político. “A história do Lula é o que todo mundo queria do presidente da República, mas a figura do Lula ultrapassava”, acrescenta.


Diante da mudança, a avaliação é de que o eleitor entendeu que quem estava pedindo a oportunidade, então, era um novo Lula: “O Lula conciliador, capaz de conciliar os interesses nacionais com uma visão social e aí ele se elege  presidente da República”.


"Marquetologia"


Carlos Manhanelli chama os marqueiteiros de marquetólogos, pois entende que é preciso conhecimento para colocar em prática ações determinantes para o sucesso eleitoral.


Ele explica que o eleitor percebe praticamente quatro tipos de imagens, ou arquétipos dos candidatos durante uma campanha e ela precisa ser adequada a necessidade do momento para aumentar as chances de sucesso. “O político tem que ser ou o herói, ou o líder charme, ou o pai de todos ou o homem simples”.


Por isso, durante a campanha da atual presidente do Brasil, Dilma Roussef, a própria candidata passou por uma reestruturação da imagem, mudando cabelo, óculos, suavizando as expressões com cirurgia plástica, mudando a forma de gesticular e a entonação da voz.


Como ministra da Casa Civil (o equivalente ao cargo de primeiro-ministro em vários países, como Portugal), cargo que ocupou durante o governo Lula, Dilma Roussef desempenhava, na avalizão do especialista, o papel da heroína.


No entanto, quando partiu para a corrida eleitoral, essa não era a figura pela qual o povo ansiava. “A Dilma era a grande gerente, aquela resolvia todos os problemas”.


No entanto, para dar continuidade ao trabalho de Lula, que contava com uma grande aprovação nas pesquisas, era preciso oferecer a figura da grande mãe e não da gerente. “Transformam a Dilma, tudo é transformado para colaborar com essa imagem de mãe, aquela que vai dar sequência à visão social implantada pelo homem simples, que era Lula”.


Marketing brasileiro é produto de exportação


Na avaliação do especialista, os profissionais contratados pelo presidente angolano são tarimbados e experientes. “O João Santana, principalmente, é um profissional que está há muito tempo no mercado, fez várias campanhas, tem uma experiência, uma bagagem de prática que é muito grande em campanhas eleitorais e aplica verdadeiramente o marketing político eleitoral”, comenta. Ele diz ainda que a técnica das quatro imagens é perceptível na no trabalho de João Santana.


O presidente da Associação Brasileira de Consultores Políticos conta ainda que não é de hoje que profissionais brasileiros têm sido chamados para campanhas no exterior e desde a década de 80 têm atuado na Argentina, México, Colômbia e outros países da America Latina. “O marketing político no Brasil se tornou um produto de exportação”.


Em 38 anos de experiência no setor, Carlos Manhanelli, que também é professor de assessoramento de imagem e consultoria política na Universidade de Salamanca, na Espanha, explica que o marketing político é uma ferramenta moderna que veio para substituir as antigas práticas de coronelismo, quando o voto era imposto por uma determinada liderança local.


“O marketing eleitoral, como arma democrática, substitui esses coronéis que, através da imposição, faziam a política antigamente. Então, na realidade, o marketing eleitoral se torna uma arma democrática para levar a comunicação entre o candidato e os seus eleitores”.


Quem vota decide os rumos do país


E em Angola, os profissionais brasileiros vão encontrar um terreno fértil. O presidente José Eduardo dos Santos tem a maior margem de rejeição em uma pesquisa feita pelo instituto Gallup em 34 países da África Subsaariana. São 78% de eleitores descontentes contra 16% que aprovam o seu governo. Ferramentas eleitorais à parte, Carlos Manhanelli deixa claro, porém, que quem vota é quem decide os rumos do país.


Manhanelli já esteve na África como observador eleitoral e entende o cenário africano, como um todo, como muito parecido com o Brasil no período logo depois da ditadura. Isso quer dizer um panorama que reflete a recuperação da liberdade a ser exercida por meio do voto. “A grande abertura e a conscientização de um povo que ele tem direito e não só obrigações que é o que a ditadura impõe”.


Em sua avaliação, países como Angola e Moçambique estão aumentando sua percepção de democracia e o povo, com mais consciência de seu papel no processo, pode mudar os rumos da política. “Eu acredito que, através desse processo democrático, dessa abertura que Angola está dando para essa eleição que, vamos chamar de direta, embora seja indireta porque são eleitos os deputados, o povo possa perceber que ele tem algum poder para colocar as pessoas que ele quer colocar ou lá, no caso, os partidos que ele quer colocar no poder”.


Para Manhanelli, o mais importante, porém, é ter em mente que “quem constrói a democracia de um país é o seu povo”.

OUÇA ENTREVISTA NO SITEhttp://www.dw.de/dw/article/0,,15949509,00.html



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