segunda-feira, 19 de agosto de 2013

HOJE NÃO EXISTE PARTIDO SATISFEITO COM O GOVERNO’, RECLAMAM PARLAMENTARES

Segundo congressistas, queda da popularidade de Dilma foi apenas a gota d’água para crise que se avizinha
BRASÍLIA - A derrota do governo semana passada no Congresso e a iminência de ocorrerem outras nas próximas semanas não se deve exclusivamente à queda da popularidade da presidente Dilma Rousseff nas mais recentes pesquisas de opinião pública. Na avaliação de parlamentares dos mais diversos partidos, a crise que se avizinha foi construída dia após dia ao longo dos 30 primeiros meses do mandato da presidente. A recente queda de popularidade é vista por eles apenas como a faísca que faltava.
Entre os muitos motivos enumerados por parlamentares e líderes partidários estão uma postura de isolamento em relação ao Congresso — especialmente da Câmara —, a escolha de nomes sem trânsito no meio político como representantes do Palácio nas negociações e o esvaziamento dos líderes que até então mantinham o controle dos partidos da base aliada, que era a maior de um presidente desde a redemocratização.
— O que houve foi muita distância e falta de interlocução. Nos governos passados havia pessoas que conversavam com o Congresso. Hoje, temos uma ministra da Articulação Política (Ideli Salvatti) que não tem autoridade com o resto do governo e os líderes têm dificuldade de negociar acordos porque o Palácio não cumpre. Hoje não existe nenhum partido satisfeito com o governo, nem o PT. Não é apenas o orçamento impositivo que aprovamos. Hoje, o governo não ganha nenhuma votação no Congresso — diz o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI).
Aliados dizem que, apesar de a presidente ter tentado nas últimas semanas mudar o conflituoso relacionamento com o Congresso, em reuniões com a base aliada, o governo segue cometendo erros diários de avaliação política, como não negociar os textos que são votados em Plenário e apostar tudo nos vetos, que agora correm o risco de serem derrubados, e na judicialização. Um líder da base compara:
— O governo está como o alcoólatra que acorda de ressaca e jura que nunca mais vai beber. Mas chega no dia seguinte e bebe de novo.
Na última semana, alguns desses erros voltaram a se repetir, quando o governo não concordou em ceder em pontos do orçamento impositivo. Nas negociações, tentou emparedar líderes da Câmara, afirmando já ter acordo no Senado. Acabou derrotado. Por fim, avisou que entraria na Justiça contra a emenda.
— Se o governo for à Justiça contra o orçamento impositivo, vai sofrer derrota toda semana. Negociar não é só ouvir o outro lado, mas ceder e acatar as sugestões — alerta um peemedebista.
— Desaguou agora porque nunca houve relação. Um casal separado que só se junta por causa dos filhos não tem como ter uma relação boa. Os interlocutores do Palácio e o fato de a base ser heterogênea são os maiores problemas — aponta o deputado Júlio Delgado (PSB-MG).
Planalto troca líderes e perde o controle do Congresso
Em março do ano passado, quando surfava em uma avaliação positiva de 64%, a presidente Dilma Rousseff fez uma troca dupla de seus líderes na Câmara e no Senado. Responsáveis pela condução da pauta do governo desde o governo Lula, o deputado Cândido Vaccarezza (PT) e o senador Romero Jucá (PMDB) tinham amplo trânsito nas mais diversas legendas, inclusive na oposição, e conhecimento dos meandros de funcionamento da Câmara e do Senado.
No lugar deles foram colocados o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), que apesar de experiente tem menos trânsito fora do PT, e o senador Eduardo Braga (PMDB-AM), que tinha recém-completado um ano no Senado e bradava aos quatro ventos sua insatisfação com a Casa.
Sem representação nem controle dos Plenários da Câmara e do Senado, os dois pioraram uma situação que já se desgastava. Tanto Jucá quanto Vaccarezza caíram após duas derrotas sentidas pessoalmente pela presidente: a aprovação do Código Florestal e a rejeição de Bernardo Figueiredo para a diretoria geral da ANTT. Dilma achou que o problema estava no mensageiro e não percebeu o grau de conflagração que se espalhava pela base.
Insatisfação alimentada pela dificuldade dos parlamentares em serem recebidos por ministros, de influenciarem nas nomeações em seus estados e, sobretudo, de liberarem suas emendas ao Orçamento. Além disso, a maioria dos atuais ministros políticos têm pouca representatividade nas bancadas e já não podem mais atuar como propulsores de votos a favor do governo, especialmente na Câmara.
Correlação de forças mudará
Para completar, a dificuldade do governo em apresentar resultados de suas realizações, especialmente nos projetos de infraestrutura, deram discurso inclusive aos parlamentares que integravam a base, mas de perfil mais independentes. Para o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), um desses, a correlação de forças entre o governo e Congresso será alterada de fato a partir das próximas semanas com a aprovação do chamado orçamento impositivo e a apreciação de vetos presidenciais.
— Isso vai mudar a correlação de forças. Precisamos de uma revolução, a revolução do cumpra-se (o que está escrito na Constituição, como no caso da apreciação dos vetos). Fazer política não é só receber pessoas, é mostrar realizações com um prazo razoável e custo justo. O que determina é a boa gestão, o bom projeto — disse Miro


Paulo Celso Pereira (Email)

Cristiane Jungblut (Email)

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