BRASÍLIA - A derrota do governo semana passada no
Congresso e a iminência de ocorrerem outras nas próximas semanas não se deve
exclusivamente à queda da popularidade da presidente Dilma Rousseff nas mais
recentes pesquisas de opinião pública. Na avaliação de parlamentares dos mais
diversos partidos, a crise que se avizinha foi construída dia após dia ao longo
dos 30 primeiros meses do mandato da presidente. A recente queda de
popularidade é vista por eles apenas como a faísca que faltava.
Entre os muitos motivos enumerados por
parlamentares e líderes partidários estão uma postura de isolamento em relação
ao Congresso — especialmente da Câmara —, a escolha de nomes sem trânsito no
meio político como representantes do Palácio nas negociações e o esvaziamento
dos líderes que até então mantinham o controle dos partidos da base aliada, que
era a maior de um presidente desde a redemocratização.
— O que houve foi muita distância e falta de
interlocução. Nos governos passados havia pessoas que conversavam com o
Congresso. Hoje, temos uma ministra da Articulação Política (Ideli Salvatti)
que não tem autoridade com o resto do governo e os líderes têm dificuldade de
negociar acordos porque o Palácio não cumpre. Hoje não existe nenhum partido
satisfeito com o governo, nem o PT. Não é apenas o orçamento impositivo que
aprovamos. Hoje, o governo não ganha nenhuma votação no Congresso — diz o
presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI).
Aliados dizem que, apesar de a presidente ter
tentado nas últimas semanas mudar o conflituoso relacionamento com o Congresso,
em reuniões com a base aliada, o governo segue cometendo erros diários de
avaliação política, como não negociar os textos que são votados em Plenário e
apostar tudo nos vetos, que agora correm o risco de serem derrubados, e na
judicialização. Um líder da base compara:
— O governo está como o alcoólatra que acorda de
ressaca e jura que nunca mais vai beber. Mas chega no dia seguinte e bebe de
novo.
Na última semana, alguns desses erros voltaram a se
repetir, quando o governo não concordou em ceder em pontos do orçamento
impositivo. Nas negociações, tentou emparedar líderes da Câmara, afirmando já
ter acordo no Senado. Acabou derrotado. Por fim, avisou que entraria na Justiça
contra a emenda.
— Se o governo for à Justiça contra o orçamento
impositivo, vai sofrer derrota toda semana. Negociar não é só ouvir o outro
lado, mas ceder e acatar as sugestões — alerta um peemedebista.
— Desaguou agora porque nunca houve relação. Um
casal separado que só se junta por causa dos filhos não tem como ter uma
relação boa. Os interlocutores do Palácio e o fato de a base ser heterogênea
são os maiores problemas — aponta o deputado Júlio Delgado (PSB-MG).
Planalto troca líderes e perde o
controle do Congresso
Em março do ano passado, quando surfava em uma
avaliação positiva de 64%, a presidente Dilma Rousseff fez uma troca dupla de
seus líderes na Câmara e no Senado. Responsáveis pela condução da pauta do
governo desde o governo Lula, o deputado Cândido Vaccarezza (PT) e o senador
Romero Jucá (PMDB) tinham amplo trânsito nas mais diversas legendas, inclusive
na oposição, e conhecimento dos meandros de funcionamento da Câmara e do
Senado.
No lugar deles foram colocados o deputado Arlindo
Chinaglia (PT-SP), que apesar de experiente tem menos trânsito fora do PT, e o
senador Eduardo Braga (PMDB-AM), que tinha recém-completado um ano no Senado e
bradava aos quatro ventos sua insatisfação com a Casa.
Sem representação nem controle dos Plenários da
Câmara e do Senado, os dois pioraram uma situação que já se desgastava. Tanto
Jucá quanto Vaccarezza caíram após duas derrotas sentidas pessoalmente pela
presidente: a aprovação do Código Florestal e a rejeição de Bernardo Figueiredo
para a diretoria geral da ANTT. Dilma achou que o problema estava no mensageiro
e não percebeu o grau de conflagração que se espalhava pela base.
Insatisfação alimentada pela dificuldade dos
parlamentares em serem recebidos por ministros, de influenciarem nas nomeações
em seus estados e, sobretudo, de liberarem suas emendas ao Orçamento. Além
disso, a maioria dos atuais ministros políticos têm pouca representatividade
nas bancadas e já não podem mais atuar como propulsores de votos a favor do
governo, especialmente na Câmara.
Correlação de forças mudará
Para completar, a dificuldade do governo em
apresentar resultados de suas realizações, especialmente nos projetos de
infraestrutura, deram discurso inclusive aos parlamentares que integravam a
base, mas de perfil mais independentes. Para o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ),
um desses, a correlação de forças entre o governo e Congresso será alterada de
fato a partir das próximas semanas com a aprovação do chamado orçamento
impositivo e a apreciação de vetos presidenciais.
— Isso vai mudar a correlação de forças. Precisamos
de uma revolução, a revolução do cumpra-se (o que está escrito na Constituição,
como no caso da apreciação dos vetos). Fazer política não é só receber pessoas,
é mostrar realizações com um prazo razoável e custo justo. O que determina é a
boa gestão, o bom projeto — disse Miro
Paulo Celso Pereira (Email)
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