segunda-feira, 5 de abril de 2010

ENTREVISTA AO PORTAL TERRA

EMOÇÃO DECIDE VOTO

Ainda que afastado da Presidência da República há 7 anos, Fernando Henrique Cardoso permanece uma autoridade e opina com desenvoltura no cenário político. Mesmo ao lado da candidatura do governador José Serra, ele considera uma possibilidade de vitória da principal adversária do tucano, Dilma Rousseff. "Os dois (Dilma Roussef e Serra) terão que ter emoção. Sem emoção não se ganha eleição", declarou o sociólogo em entrevista na noite de quarta-feira, em São Paulo.
No mesmo dia da despedida dos dois pré-candidatos de suas funções públicas, FHC afirmou que os candidatos que provavelmente polarizarão a disputa terão de desenvolver a habilidade de se comunicar com o eleitorado. "(A eleição) vai depender da capacidade deles de se comunicarem com o País. Claro que também depende de militância, de apoios, mas principalmente da capacidade de transmitirem uma mensagem que toque o país", diz o ex-presidente. Ele afirma que Serra já demonstrou ser capaz de emocionar ao se eleger governador de São Paulo, mas não vê a mesma capacidade em Dilma. "Dilma é uma pessoa razoável, mas não vejo muita emoção nela."
A avaliação de FHC é ratificada pelo publicitário, professor e especialista em marketing político Carlos Manhanelli. "Quem for capaz de alcançar o emocional do povo brasileiro, ganha", disse. Autor de mais de 11 livros sobre marketing eleitoral, Manhanelli concorda com a tese e a reforça. "Dilma realmente não demonstra emoção, mas o Serra é também um cara muito frio", avalia. "Quando os dois querem transmitir uma emoção, isso soa falso, não é natural neles", diz.
Transferir ou não transferirQuando o assunto é o potencial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de fazer seu sucessor, as opiniões do sociólogo e do publicitário divergem. Para Manhanelli, o carisma do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não significa que seus votos serão automaticamente transferidos para Dilma.
"A mensagem que o povo quer é a de que o candidato em quem está votando é o que vai lhe dar esperança. Não existe voto de gratidão, voto pelo que o eleitor já tem", diz. Manhanelli diz que a aposta de Dilma em uma identificação com Lula é sua única chance, mas não é uma tarefa fácil. "Dilma tem que ser o Lula de saia, mas isso está muito difícil porque ela é muito dura."
Já Fernando Henrique afirma que Dilma tem, sim, uma vantagem por ser a escolhida de Lula. "Se ela não tivesse alguma vantagem não teria os votos que tem. Os votos não são dela, são dele (Lula). Então ela já está levando vantagem. O problema é outro, é até que ponto (isso ocorre). Não se pode saber de antemão, depende do desempenho", disse o ex-presidente. Manhanelli ressalta que a deficiência de Dilma - de não ter o "apelo popular" de Lula, que veio da pobreza à classe operária e do sindicalismo à Presidência - poderia ser compensada com uma imagem sofrida inerente à condição de mãe. "Dilma nunca terá o mesmo apelo de Lula de ter passado fome, ela é e sempre foi de classe média."
Peso do cargo. Sete anos longe do poder retiraram de FHC o apelo que Lula tem em relação à candidata. E o próprio tucano reconhece isso. "Não adianta nada (eu estar no palanque ao lado de Serra). Eu não estou no exercício do poder, não estou na mídia. Já Lula se empenha além do limite, além do razoável para quem está no poder", disse o ex-presidente. No entanto, ele ressalva que, na hora do voto, é a capacidade do próprio candidato que se revela. "Na hora da onça beber água, quem tem o voto é mesmo a pessoa", disse.
"De uma coisa não se pode duvidar: o próximo presidente depende de Lula para se eleger", afirma Manhanelli. Serra demonstra estar consciente disso e procura colar sua imagem à de Lula com ações que expressam a cooperação entre o governo paulista e o federal. Manhanelli afirma que, na esfera emocional, o tucano terá de se esforçar para polir uma imagem de patriarca. "Ele não tem a imagem do homem simples. Terá de vir com a de um pai que abraça o país inteiro."

2 comentários:

  1. Bela entrevista Manhanelli! Parabéns pelo excelente trabalho e grande contribuição aos profissionais do mkt político. FHC sempre transmitindo palavras ponderadas e de profunda sabedoria sobre assuntos políticos.
    Abs.

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  2. Muito interessante esta materia!

    Creio que ambas as equipes acabam se anulando neste aspecto do poder emocional ou de carisma dos 2 candidatos. Sendo assim, a abordagem talvez seja orientada a outros conceitos que possam tb conduzir o eleitor ao voto.

    Jirrés Edmundo
    www.ComoSerEleito.com.br

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