Desde a antiga Roma que as eleições geram trabalho. No ‘Comentariolum Peticionis’, em bom português, Breve Manual de Campanha Eleitoral escrito, em 64 a. C., Quinto Túlio Cícero, para o seu famoso irmão, o orador Marco Túlio Cícero, que naquele ano decidiu candidatar-se a cônsul, encontramos a constatação dos famosos nomencladores dos políticos romanos, escravos libertos, que tinham como atribuição decorar nomes de pessoas do povo, para que os candidatos aos vários cargos pudessem se dirigir à população pelo nome de cada um.
“(....) Uma boa assessoria deveria providenciar visitas importantes à sua casa e plateias para os discursos, além de um ‘nomenclator’, o providencial assessor que lhe assopra no ouvido os nomes das figuras importantes que estão por perto.”
Hoje, o período eleitoral chega e modifica a rotina dos cidadãos, sendo responsáveis por mobilizar a atenção e centralizar o foco dos assuntos na política. Assim, diversos segmentos da esfera pública ganham força, como o sector terciário, através de empregos temporários e informais. E há uma forma infalível de identificar essa época de aquecimento económico: é só observar o número de pessoas trabalhando nas campanhas, seja na distribuição de santinhos, dirigindo carros de som ou mesmo no marketing eleitoral.
As campanhas eleitorais são responsáveis por um aumento significativo do mercado de trabalho em diversas áreas, desde a mão-de-obra não especializada (distribuição de santinhos, segurador de placas, empacotadores e carregadores) até os famosos especialista em Marketing eleitoral, publicitários, advogados, jornalistas, etc.
Com a proximidade das eleições, os institutos de pesquisa no Brasil procuram reforçar as suas equipas de campo.
No “Data Folha” o número de selecções e de formação duplica durante o ano eleitoral. Os candidatos devem ter habilitações de nível superior ou ensino médio completo.
O número de contratados no Ibope em anos eleitorais é 14 vezes maior do que nos outros anos.
O “Sensus” também recebe cadastros de candidatos pelo site. Nas últimas eleições (2008) os técnicos em informática que foram responsáveis por instalar e operar as urnas eletrônicas nas eleições municipais foram selecionados pela internet. No total, foram 13.587 vagas em todo o País. Só em São Paulo ofereceram-se 1.862 novas oportunidades de emprego nesta área.
Mais uma área que gera recursos é a dos famosos ‘Jingles’ eleitorais. Existem compositores que chegam a fazer oito jingles por eleição. Os preços variam em torno de R$800,00 (Oitocentos Reais) a R$5.000,00 (Cinco mil Reais) para cada canção, dependendo da fama e experiência do compositor, num processo que envolve também outros instrumentistas.
Bons profissionais de rádio e TV, nesta época, são caçados e contratados a peso de ouro. Quanto mais experiência em campanhas eleitorais, e quanto mais conceituado o veículo de comunicação que trabalha, mais valorizados são.
Hastear bandeiras e distribuir santinhos também foram opções para os que estavam em busca de uma renda a mais. O cenário é bastante comum na capital e no interior do País, principalmente nos trechos onde há sinais (sinaleiras, semáforos). Nem o sol forte ou a possibilidade de receber uma recepção hostil desanima os que se aventuram nesse trabalho. Na média recebem R$200,00 (Duzentos Reais) por quinzena para trabalhar durante oito horas por dia.
Cada vez mais, as eleições exigem especialistas na área para serem implementadas de forma adequada e profissional.
Os especialistas em marketing, também chamados de ‘marqueteiros’ — às vezes em tom pejorativo, fazem parte de uma carreira multidisciplinar que inclui conhecimentos nas áreas de pesquisa, psicologia de massa, estratégia, propaganda e publicidade, marketing, jornalismo, rádio e TV, direito eleitoral, informática, relações públicas, noções da operação e logística na distribuição de material, etc. Esses profissionais unem-se em torno de duas paixões: política e comunicação.
Um dos aspectos da profissão é que a remuneração é concentrada, pois o que se ganha na campanha corresponde à quantia que o profissional receberia em um ano na sua actividade anterior, aproximadamente.
O Profissional em Marketing Eleitoral tem que se manter sempre actualizado e em sintonia com o que ocorre nas campanhas eleitorais do mundo todo. O que acontece em uma campanha eleitoral nos E.U.A. pode servir de exemplo e influenciar novas estratégias em outras partes do mundo (o uso da internet na ‘campanha Obama’).
No Brasil, o Marketing Eleitoral tem ganho status de ciência, que já passa a ser estudada em universidades que oferecem a matéria em sua grade curricular, formando mestres e doutores com essa especialização e ‘expertise’. O Profissional moderno da área deve ter um bom conhecimento teórico e principalmente prático, para que possa coordenar uma campanha eleitoral. O mercado abre-se não apenas para campanhas políticas, mas também para associações, federações, sindicatos, clubes de futebol, entidades de classe, e todas as instituições que demandem um processo electivo.
O Brasil vive uma carência enorme de profissionais realmente habilitados para este mercado, gerando vários oportunistas, sem a menor formação académica ou experiência de trabalho, que se arvoram em ‘Marketing Políticos’. E o são na tradução mais pejorativa da palavra.
Temos na maioria dos países democráticos a existência de associações de consultores políticos, que separam o joio do trigo ou seja ‘Marketeiros’ de ‘Marketólogos’, oferecendo ao mercado condições de diferenciá-los e contratar os verdadeiros profissionais da área, os ‘Marketólogos’. Hoje só cai no “conto do marketeiro eleitoral” quem quer.
Assim como ocorre no Marketing Eleitoral, há uma carência de advogados eleitorais, cuja missão é resguardara legitimidade dos resultados das urnas eleitorais. Uma das tarefas é cuidar de questões referentes ao registo e à impugnação de candidaturas e às especificidades da lei eleitoral em relação, por exemplo, à propaganda eleitoral. Passadas as eleições, o trabalho é centrado nas prestações de contas dos partidos políticos com a Justiça Eleitoral.
Hoje, para qualquer candidato, tão importante quanto contratar um ‘Marketólogo’ é ter uma consultoria especializada em direito eleitoral. O profissional em direito eleitoral deve estar sempre actualizado sobre as jurisprudências nessa área. Amplo conhecimento da Constituição e da legislação eleitoral também são fundamentais. Nos últimos anos, a principal tarefa atribuída aos advogados dessa área passou a ser a atenção a pendências de candidatos e de partidos.
Enfim, o Marketing Eleitoral abre-se como uma nova frente de trabalho para quem realmente quer ser um profissional da área, lembrando que o trabalho de marketing tem que continuar após a eleição pois, mesmo depois de eleito, o candidato ainda precisa de visibilidade. A esse trabalho chamamos ‘Marketing Político’, pois de forma diferente do ‘Marketing Eleitoral’ (usado apenas para se conseguir um mandato), o ‘Marketing Político’ será desenvolvido para quem já tem um mandato político, mandato este que será a base de todo o trabalho.
Perfil
Carlos Augusto Manhanelli é Speaker da Guru’s Agency, marca da High Play consultores, e é Mestre em Comunicação Social Autor de 10 livros na área de Marketing Eleitoral, Presidente da ABCOP – Associação Brasileira dos Consultores Políticos e Professor no curso “Master em Assessoria de Imagem y Consultoria Política (MAICOP)” da Universidad Pontificia de Salamanca – Espanha – UE.FONTE: http://www.pdtdf.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=68&Itemid=68
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