O GLOBO
POR STELLA BORGES / DIMITRIUS DANTAS
SÃO PAULO - Eleito sob o mote de "João Trabalhador", criado para atenuar a imagem de empresário milionário e elitista, o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), dedicou seu primeiro mês de mandato a cumprir uma agenda popular e performática. Em sua "estreia" à frente da administração, se vestiu de gari. Desde então, em compromissos diários, inclusive nos fins de semana, já foi pedreiro, ciclista e até cadeirante, para testar a acessibilidade das calçadas. - Dinheiro, a gente não tem, mas a gente tem criatividade. E com criatividade a gente consegue fazer obras - disse ele nesta terça-feira, emendando: - Vamos continuar no mesmo ritmo. Vamos continuar nesse ritmo pelos quatro anos. Tenho trabalhado 16, 17 horas por dia, inclusive nos domingos. Eu e muitos secretários estamos no mesmo ritmo. Com dinheiro curto, Doria apostou em ações de visibilidade que dão resultados imediatos e exigem poucos investimentos, como o programa de zeladoria urbana batizado de "Cidade linda". Principal foco de sua gestão até agora, as ações tiveram ampla repercussão, mas a busca por um noticiário positivo não o livrou de polêmicas. Na mais recente delas, declarou verdadeira guerra aos pichadores na cidade: mais de 40 pessoas já foram detidas. Ele também decidiu apagar os murais da Avenida Vinte e Três de Maio desenhados há dois anos, o que incomodou artistas e urbanistas. Autorizadas pelo ex-prefeito Fernando Haddad (PT) em 2015, as pinturas eram chamadas de "maior mural de grafite a céu aberto da América Latina". Após a repercussão negativa, o prefeito anunciou a criação de uma espécie de museu a céu aberto para abrigar grafites em diferentes pontos da cidade. Uma de suas promessas de campanha, o aumento da velocidade nas marginais Pinheiros e Tietê virou alvo de disputa judicial. A pedido de uma associação de ciclistas, a Justiça barrou a mudança, sob o argumento de que traria riscos ao trânsito. Doria recorreu da decisão e conseguiu revertê-la. Para não aumentar a tarifa dos ônibus, outro compromisso eleitoral, o prefeito e o governador Geraldo Alckmin (PSDB), seu padrinho político, elevaram o valor da integração entre ônibus e transporte sobre trilhos para acima da inflação. O caso também foi parar na Justiça, que barrou a medida em sucessivas decisões. Em sua estreia à frente da administração de São Paulo, João Doria varreu a Av. Paulista vestido de gari. Agenda popular e performática dá o tom do início de sua gestão. Uma das apostas de Doria é o programa de zeladoria urbana batizado de “Cidade linda” Ao lado do governador Geraldo Alckmin, Doria toma café em um bar próximo à prefeitura, após a assinatura do termo de repasse do Fundo Estadual de Assistência Social (FEAS). O prefeito apostou em ações de visibilidade que dão resultados imediatos e exigem poucos investimentos. Doria se tornou alvo de protestos, após apagar grafites e pichações na Av. 23 de Maio, o que incomodou artistas e urbanistas. O governador Geraldo Alckmin, João Doria e Vice-Prefeito Bruno Covas participam da missa em celebração ao aniversário da cidade de São Paulo na Catedral da Sé. Ao lado do presidente Michel Temer, Doria vai ao ato Nacional em Memória às Vitimas do Holocausto. Doria ainda retirou um veto à apreensão de pertences de moradores de rua pela Guarda Civil Metropolitana (GCM), decreto criado durante a gestão Haddad. À imprensa, disse que a determinação servia apenas para que a GCM pudesse acompanhar os trabalhos das secretarias de Direitos Humanos e Assistência Social, e que a retirada de objetos não iria acontecer. Formado em comunicação, Doria demonstrou que terá um cuidado especial com o marketing na sua gestão, seja para dar nomes curiosos aos programas - como o "Corujão da saúde" - ou na dedicação em alimentar as redes sociais. Em tempos de pouca verba para investir em publicidade, as plataformas digitais têm sido os principais canais de divulgação do prefeito. Na internet, ele conta como é comandar a maior cidade do país, e sua exposição tem rendido comentários positivos e sugestões. Especialista em marketing político, Carlos Manhanelli comparou a postura de Doria com a de Jânio Quadros, que também comandou a capital paulista na década de 1980: - Doria é a cópia fiel do Jânio, que também se fantasiava e foi um grande ícone da política brasileira. Como comunicador, ele sabe como chamar a atenção dos jornalistas e se apresentar. Durante a campanha, criou a imagem do herói, do grande empresário que viria para resolver os problemas, e essas ações (se vestir de gari, varrer a rua) humanizam o político. Para Carlos Melo, cientista político do Insper, Doria busca atrair a atenção para si e desviar o foco de promessas que não podem ser cumpridas ou que vão demorar a sair do papel: - Tem uma parte do eleitorado que é sensível ao espalhafato, ao prefeito vestido de pedreiro. Diante das primeiras dificuldades, ele vai criando fatos, tentando chamar a atenção para outras coisas. Isso é ruim do ponto de vista da maturidade política, institucional. O prefeito tem que administrar não limpar a praça. No primeiro mês de mandato, João Doria tenta desviar atenção de promessas.