Como Franklin Roosevelt, Dilma aposta
nas emissoras de rádio para se aproximar da população - e reverter a queda na
popularidade
O rádio continua sendo um meio de comunicação popular no Brasil,
apesar do avanço da tecnologia e da internet. Mas vinha sendo ignorado por
Dilma Rousseff. Nos dois primeiros anos de mandato, ela limitara-se a gravar o
programa oficial semanal da Presidência, que vai ao ar às segundas-feiras.
Entrevistas? Nenhuma. Em 2013, só tinha topado duas. Aí vieram os protestos de
junho, Dilma caiu nas pesquisas e foi obrigada a se repensar. E inaugurou uma
espécie de “era do rádio” em sua comunicação.
Durante o mês de agosto, a presidenta concedeu 15 entrevistas,
considerando todo o tipo de veículo atendido (jornais, tevês etc). Sete delas -
ou seja, praticamente a metade - foram exclusivas para rádios, com treze
emissoras contempladas.
A ampliação do contato com as rádios obedeceu a uma estratégia
formulada por Dilma a partir de conversas com alguns conselheiros. A presidenta
precisava reverter logo a queda nas pesquisas, para não atravessar o segundo
semestre acuada por um Congresso hostil nem chegar ao ano da reeleição na
defensiva.
O rádio é acompanhado por 75% dos brasileiros, segundo uma
pesquisa de dezembro de 2010 da Secretaria de Comunicação Social da
Presidência. Em entrevistas ao vivo, como é o caso das concedidas por Dilma,
permite ao entrevistado falar com o eleitor sem intermediários. O efeito na
opinião pública é quase imediato.
A “era do rádio” de Dilma priorizou emissoras dos dois maiores
colégios eleitorais do país. A presidenta marcou várias agendas em Minas Gerais
e São Paulo e sempre arrumou um tempo para conversar com as emissoras.
A estratégia parece ter funcionado. Dilma subiu em todas as
últimas pesquisas. Primeiro no Datafolha, depois no Ibope e agora no Vox
Populi, como mostra a nova edição de CartaCapital.
É certo que a “era do rádio” é obra de conselheiros do Palácio do
Planalto. Mas teria também inspiração em Franklin Roosevelt, o presidente que
tirou os Estados Unidos da crise econômica e social posterior à quebra da bolsa
de Nova Iorque em 1929?
Durante as reuniões pós-manifestações, Dilma ganhou de um de seus
conselheiros uma biografia de Roosevelt. O livro se chama Traidor de Sua Classe – a vida
privilegiada e a presidência radical de Franklin Delano Roosevelt. É de
2008 e não possui uma versão em português, apenas em inglês.
A obra do historiador H.W. Brands conta, entre outras coisas, como
Roosevelt, que governou os EUA de 1933 a 1945, identificou no rádio um aliado.
Com o microfone, o democrata acreditava poder se dirigir diretamente à
população, contornar jornais alinhados com seus adversários republicanos e se
impor perante o Congresso.
Roosevelt tinha essa visão antes mesmo de conquistar a Casa Branca
na eleição de 1932. Como governador de Nova Iorque, fez um discurso em 1929 no
qual exorta o Partido Democrata a apostar no que era então uma jovem mídia. “Eu
acho que é quase seguro dizer que na decisão das pessoas sobre qual partido
elas vão apoiar, o que se ouve no rádio conta mais do que o que é impresso nos
jornais”. As palavras de Roosevelt, escreveu o autor, “eram boas notícias para
os democratas, que na maior parte do país enfrentavam uma cética e até mesmo
hostil imprensa republicana”.
O rádio também permitia ao Poder Executivo, na avaliação de
Roosevelt, prevalecer ante o Poder Legislativo. Os parlamentares eram (e ainda
são) muitos e falam o que querem, mas suas vozes se chocam e produzem
cacofonia. Já o governante é uma voz única a se espraiar pelas ondas do rádio.
“Um Roosevelt ao microfone”, escreveu Brands, “poderia entrar nos lares de
milhões de ouvintes, forjar um relacionamento pessoal que deixava mesmo o mais
poderoso congressista em uma irrecuperável desvantagem.”
Isso explica o nascimento das "conversas ao lado da
lareira", o programa de rádio inventado por Roosevelt na Presidência. O
formato do programa dava a impressão de que ele matinha uma conversa íntima com
a população sobre as ações do governo e os problemas do país. Foi um achado que
permitiu a Roosevelt tornar-se o único presidente norte-americano eleito quatro
vezes. Ele só deixou a Casa Branca morto, em 1945. E foi por causa dele que o
Congresso norte-americano acabou com a reeleição infinita.
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