sexta-feira, 22 de março de 2013

Marketing Político, Mídias Sociais e as Eleições Brasileiras de 2010

Aproximam-se as eleições de 2.014 e novamente o assunto Internet vem a baila. Vamos recordar algumas considerações que fizemos em 2.010 e que ainda são perfeitamente inerentes ao assunto.
 Imaginavam que no Brasil o sucesso das mídias sociais seria proporcional ao que ocorreu nos Estados Unidos. Pensavam que o povo iria correr para seus celulares interativos, computadores e notebooks atrás de informações sobre seu candidato preferido, como se este fosse um ídolo do futebol, ator famoso ou um rockstar.
Acharam que a dona Maria e o tio Zé – que assistem novelas, o jornal por embalo e desligam a TV quando a conhecida tela azul com letras em branco anuncia que a lei número 9.504/97 entra em ação com seu horário eleitoral gratuito – se dariam ao trabalho de buscar motivos para acreditar e votar em um candidato na internet.
Aliás, dentro desse contexto, no de acreditar, foi um dos motivos pelo qual deu tão certo a campanha virtual de Obama: a esperança. Foi o que alimentou e, principalmente, moveu as pessoas naquele país a trabalhar em prol do candidato democrata e acessar a internet e até colaborar financeiramente com débitos em cartões de crédito.
Sendo a primeira vez que se usaram, na sua plenitude, as ferramentas da internet em uma campanha eleitoral aqui no Brasil, nada se tem de muito concreto sobre como funcionam – se funcionam – as mídias sociais por aqui no âmbito político ou eleitoral. Houve partido que fez desembarcar por essas terras o norte-americano Ben Self, sócio da Blue State Digital, responsável pela movimentação na rede de computadores da campanha de Barack, acreditando naquela antiga máxima “O que é bom para os E.U.A é bom pára o Brasil. Ledo engano.
Só faltou levar em conta que eram realidades distintas, e avisar essa turma que nem tudo que serve lá serve aqui também. Entretanto, uma experiência pioneira que se mostrou muito acertada foi o debate online entre presidenciáveis na internet brasileira que ocorreu dia 18 de agosto de 2.010 no teatro da PUC-SP, em uma parceria entre o portal UOL e o jornal Folha de São Paulo.
Foi algo que realmente movimentou as redes sociais e quem se interessava por política, o que converteu a contenda em algo de alto nível. Algo de grande interatividade e dinâmica. Este é ainda um ano de experiências para o Brasil no campo das mídias sociais e suas aplicações na política e eleições. Estamos vivenciando um grande laboratório virtual nas campanhas eleitorais no nosso país.
No Amapá, foi minguada a implantação da campanha virtual para o cargo de governador. Isso ocorreu, pois, entre outras coisas, nesse Estado não há conexão por Banda Larga, o que torna pouco atrativo passar o dia brigando com a lentidão do velho modem discado.
Outro motivo foi que a maioria das pessoas que tinham acesso à internet era contrária as candidaturas que se apresentavam, apesar da penetração dos candidatos ser muito forte entre os jovens. Por receio de entrar com mais intensidade nesse meio, não se aplicou muito empenho e dinheiro às mídias sociais durante essa campanha.
O mesmo temor houve em uma campanha para deputado estadual no interior do Estado de São Paulo. Por preferir não se arriscar nesse plano, direcionou-se a verba para outras esferas da campanha e simplesmente ignorou-se a “moda” das mídias sociais.
Em outra mão, outro aspirante a um cargo na Assembléia Legislativa de São Paulo, um senhor, na casa dos 70 anos idade, que não tinha boa penetração entre o eleitorado jovem, decidiu entrar nesse campo. Foi criado um perfil no Orkut na tentativa de aproximá-lo desse público. Resultado: em dois meses dois perfis do candidato ficaram cheios, lotam de acessos e geram interatividade com o deputado. Surpresas de campanha eleitoral.
Há, inclusive, campanhas e candidatos que se tornam um dos assuntos mais comentados na rede. Isso passou com um candidato a deputado federal por São Paulo (Tiririca), que se tornou, pelo menos durante uma semana, o nome mais comentado no Twitter. No Youtube, os vídeos desse mesmo candidato com seus pedidos de voto no horário eleitoral gratuito, são campeões de audiência na categoria.
Outros apelaram para o SPAM causando indignação entre os eleitores pelo número recebidos, de todos os lados, vindos de amigos, parentes, colegas de trabalho em uma militância mal-direcionada, dos próprios candidatos comprando maillings e disparando a torto e a direito sua “propaganda virtual”. Na rede social Twitter, por exemplo, há uma profusão de protestos nesse sentido. Algumas pessoas reclamam de receber até 50 emails por dia com esse teor. É caso clássico para analisarmos por que envio de email não solicitado, também chamado de SPAM, simplesmente não funciona.
Utilizando o email marketing político da maneira certa, ele até pode ser vantajoso, pois estreita e deixa mais intimo o contato entre candidato e eleitor e serve como fonte de notícias e avisos sobre datas de comícios, debates, pesquisas, etc. principalmente aos militantes. Em outras palavras, é útil para quem se interessa. Por outro lado, quando emails não solicitados com teor político chegam às caixas de entrada quase sempre são mal-recebidos.
A não ser que você concorde plenamente com o conteúdo daquela mensagem eleitoral e, detalhe importante, não se importe nem um pouco de receber spam, você não vai mudar seu voto baseado no conteúdo de um email. Isso quer dizer que na grande maioria dos casos aquele simples email só vai causar incomodo.
Sabemos que as pessoas enviam esse tipo de mensagem, com a melhor das intenções, mas, de bem intencionado a detenção está lotada, esta mensagem continua sendo spam. O conceito de Spam é: todo email não solicitado e enviado em massa é spam. Curto e grosso. Você pode presumir que todos na sua lista compartilham das suas idéias, mas é bastante provável que isso não seja verdade, principalmente em se tratando de assuntos eleitorais.
Só vamos obter o verdadeiro resultado do uso dessas ferramentas durante as campanhas, e fazer com que elas se tornem votos ou doações para campanhas, quando todas as ferramentas forem testadas aqui no Brasil. Como tudo ainda é muito novo, e mais da metade da população brasileira não tem acesso à internet, qualquer conclusão será apressada, provavelmente incerta e provavelmente incorreta. Ainda estamos no laboratório. O remédio pode matar se aplicado, sem os devidos testes, em campanhas eleitorais.


Prof. Carlos Manhanelli:
Jornalista, Publicitário, Radialista, Administrador de empresas, Especialização em Propaganda e Marketing pela ESPM, em Ciências Políticas pela FESP, MBA em Marketing pela USP e Mestre em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo, professor titular na cadeira de Comunicação Política e Marketing Eleitoral no curso de pós graduação (Maicop) da Universidade Pontifícia de Salamanca na Espanha e professor convidado em mais 8 universidades fora do Brasil.
  Autor de 16 livros sobre o tema, entre eles: "Estratégias Eleitorais e Marketing Político" livro publicado em 1988 pela Summus Editorial, encontra-se hoje na sua 8ª edição, "Guia das Eleições Municipais - 1992", editado pela Editora Guia - 1992, "Eleição é Guerra" publicado pela Editora Summus - 1992, 3º Edição "O Uso do Marketing Político na Gestão Governamental" Editora Guia de Fornecedores - 1993, "A Conquista do Voto" - Editora Brasiliense – 1996, "O Marketing Pós-Eleitoral - Técnicas de Marketing Político para um mandato de sucesso” Editora Summus – 2001, “Do Comício à Internet” – Editora Cátedra UNESCO/ABCOP – 2007 “Marketing Eleitoral – Aprendendo com campanhas municipais vitoriosas” Editora ABCOP – 2008, A Propaganda Política no Brasil Contemporâneo” – e-bock - Editora Cátedra UNESCO de Comunicação para o Desenvolvimento Regional – 2009 – “Marketing Eleitoral o passo a passo do nascimento de um candidato” Editora Geração – 2010, Internet e eleições - Bicho de 7 cabeças? Editora Manhanelli
Presidente da ABCOP - Associação Brasileira dos Consultores Políticos e Assessores Eleitorais, membro da ALACOP - Associação Latino Americana dos Consultores Políticos, membro da IAPC - International Association of Political Consultants, membro do Centro Interamericano de Gerencia Política com sede em Miami – EUA e membro da ALICE - Associação Latinoamericana de Investigadores Eleitorais com sede em Madri- Espanha.

2 comentários:

  1. Em 2006 fui fazer a campanha de um deputado federal pela Bahia, na época, convenci o tal deputado a usar o Orkut, a grande estrela da rede social naquele tempo. Montei perfil, criei Comunidade. Orientei o candidato que objetivo era estabelecer um relacionamento com o eleitor, ouvindo o, escutando o, tirando suas dúvidas e enviando material gráfica quando solicitado e convidando para eventos da campanha. Dirrepente o candidato montou uma estrutura com mais de 20 computadores e começou mandar recados a cada meia hora, os famigerados: "tô passando deixar uma boa tarde". "Comi frango assado e etc". Os tempo passaram e com exceção de Marina em 2010, a internet tem sido uma ferramenta para disseminar propaganda negativa montagens de dossiê e spans.

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  2. Utilizamos o facebook e outras mídias sociais para a campanha para prefeito em 2012 e foi muito bom no sentido de informar os comícios, maiores eventos e também porque sempre atualizávamos com materiais publicitários e fotos dos eventos. Foi bom, mas é perigoso, pois muitos entram e postam mensagens negativas e se a equipe não estiver centrada, pode abalar. Bom, minha opinião!

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