“Efeito Obama” não se repetiu no Brasil; para especialistas, faltou interatividade por parte dos políticos, que usaram os sites para propaganda estática
Entrevista ao Jornal Gazeta do Povo em 15/10/2.010
No dia 31 de outubro, quando ocorre o segundo turno para escolha de presidente da República (e de governador em alguns estados), chega ao fim o primeiro processo eleitoral no Brasil com uso pleno das mídias sociais. Milhares de candidatos puderam usar e abusar de Twitter, Orkut, YouTube, MySpace e Facebook, ferramentas que encantam e seduzem os brasileiros. Apesar da grande expectativa, o aproveitamento desse tipo de mídia no relacionamento candidato/eleitor não atingiu o resultado nem o público esperado, opinião unânime entre os especialistas em marketing político consultados pela Gazeta do Povo.
“Desde o começo, todos sabiam que essa eleição seria um grande laboratório para o uso das mídias sociais. O problema é que muitos candidatos, por desconhecimento, não souberam utilizar os veículos ou os usaram de forma equivocada”, destaca Carlos Manhanelli, presidente da Associação Brasileira dos Consultores Políticos e professor de comunicação política e marketing eleitoral na Universidade de Salamanca, na Espanha.
Interação
Antes do início das campanhas eleitorais existia a expectativa de que a troca de informação por meio das novas tecnologias pudesse influenciar na decisão do voto. Não foi o que ocorreu – muito por culpa dos próprios candidatos e suas equipes, que não souberam utilizar as ferramentas de maneira adequada. “As redes sociais não foram bem utilizadas pelas candidatos que não estavam prontos. Eles não interagiram com os eleitores, sanando suas dúvidas. Em vez disso, usaram as redes como canal de propaganda estática”, analisa o gerente de contas da Arca Estúdio de Criação e palestrante de marketing político Elizeu Alves. A opinião é compartilhada pelo consultor de marketing e comunicação Evandro Barreto. “Como instrumento, as redes sociais não foram eficientes; serviram mais como arma tática do que estratégica. Faltou maturidade”, disse.
A crítica dos especialistas reside justamente no modelo utilizado, em que as tecnologias foram apenas canais para fazer propaganda das propostas, deixando de lado a possibilidade de debate. A interação, segundo Alves, ocorreu apenas pelo lado dos eleitores. “O usuário está muito mais preparado que o candidato. Se uma pessoa segue um político no Twitter, é porque ela tem interesse em conhecer suas propostas. Quando ela fizer uma pergunta, é fundamental ter uma resposta, coisa que não ocorreu na maioria das vezes”, afirma.
Na avaliação dos especialistas, o uso das redes sociais na eleição brasileira passou longe do “efeito Obama”, quando a internet foi utilizada de forma decisiva para eleger o presidente americano. Para chegar a esse ponto no Brasil é preciso um período de maturação e o cumprimento de algumas etapas. “Essa eleição serviu para conhecer o uso das novas tecnologias. Os candidatos precisam se aprofundar. Eles têm dois anos até as próximas eleições para fazer um balanço, identificar o que deu certo e adquirir experiências. Precisam se familiarizar com as redes sociais, popularizá-las e despertar o interesse do eleitor”, ressalta Manhanelli.
Pontos positivos
Apesar das críticas, algumas ações pontuais no uso das novas tecnologias na eleições tiveram resultado positivo. Na opinião de Manhanelli, os debates na internet são o principal destaque, pois conseguiram atrair a atenção da população e envolver os eleitores. “Os debates na internet funcionaram muito bem. Ocorreu a interação entre candidatos e eleitores de forma a sanar muitas dúvidas. Esse deveria ser o propósito de todas as redes sociais, uma via de mão dupla”, afirma.
Para Barreto, a aprovação da Lei da Ficha Limpa também se deve muito à mobilização nas redes sociais. “Era visível que não existia o interesse em aprovar a lei. Com a mobilização pública que ocorreu, juntando mais de 1 milhão de assinaturas, não houve outra saída”, conclui.
Entrevista ao Jornal Gazeta do Povo em 15/10/2.010
No dia 31 de outubro, quando ocorre o segundo turno para escolha de presidente da República (e de governador em alguns estados), chega ao fim o primeiro processo eleitoral no Brasil com uso pleno das mídias sociais. Milhares de candidatos puderam usar e abusar de Twitter, Orkut, YouTube, MySpace e Facebook, ferramentas que encantam e seduzem os brasileiros. Apesar da grande expectativa, o aproveitamento desse tipo de mídia no relacionamento candidato/eleitor não atingiu o resultado nem o público esperado, opinião unânime entre os especialistas em marketing político consultados pela Gazeta do Povo.
“Desde o começo, todos sabiam que essa eleição seria um grande laboratório para o uso das mídias sociais. O problema é que muitos candidatos, por desconhecimento, não souberam utilizar os veículos ou os usaram de forma equivocada”, destaca Carlos Manhanelli, presidente da Associação Brasileira dos Consultores Políticos e professor de comunicação política e marketing eleitoral na Universidade de Salamanca, na Espanha.
Interação
Antes do início das campanhas eleitorais existia a expectativa de que a troca de informação por meio das novas tecnologias pudesse influenciar na decisão do voto. Não foi o que ocorreu – muito por culpa dos próprios candidatos e suas equipes, que não souberam utilizar as ferramentas de maneira adequada. “As redes sociais não foram bem utilizadas pelas candidatos que não estavam prontos. Eles não interagiram com os eleitores, sanando suas dúvidas. Em vez disso, usaram as redes como canal de propaganda estática”, analisa o gerente de contas da Arca Estúdio de Criação e palestrante de marketing político Elizeu Alves. A opinião é compartilhada pelo consultor de marketing e comunicação Evandro Barreto. “Como instrumento, as redes sociais não foram eficientes; serviram mais como arma tática do que estratégica. Faltou maturidade”, disse.
A crítica dos especialistas reside justamente no modelo utilizado, em que as tecnologias foram apenas canais para fazer propaganda das propostas, deixando de lado a possibilidade de debate. A interação, segundo Alves, ocorreu apenas pelo lado dos eleitores. “O usuário está muito mais preparado que o candidato. Se uma pessoa segue um político no Twitter, é porque ela tem interesse em conhecer suas propostas. Quando ela fizer uma pergunta, é fundamental ter uma resposta, coisa que não ocorreu na maioria das vezes”, afirma.
Na avaliação dos especialistas, o uso das redes sociais na eleição brasileira passou longe do “efeito Obama”, quando a internet foi utilizada de forma decisiva para eleger o presidente americano. Para chegar a esse ponto no Brasil é preciso um período de maturação e o cumprimento de algumas etapas. “Essa eleição serviu para conhecer o uso das novas tecnologias. Os candidatos precisam se aprofundar. Eles têm dois anos até as próximas eleições para fazer um balanço, identificar o que deu certo e adquirir experiências. Precisam se familiarizar com as redes sociais, popularizá-las e despertar o interesse do eleitor”, ressalta Manhanelli.
Pontos positivos
Apesar das críticas, algumas ações pontuais no uso das novas tecnologias na eleições tiveram resultado positivo. Na opinião de Manhanelli, os debates na internet são o principal destaque, pois conseguiram atrair a atenção da população e envolver os eleitores. “Os debates na internet funcionaram muito bem. Ocorreu a interação entre candidatos e eleitores de forma a sanar muitas dúvidas. Esse deveria ser o propósito de todas as redes sociais, uma via de mão dupla”, afirma.
Para Barreto, a aprovação da Lei da Ficha Limpa também se deve muito à mobilização nas redes sociais. “Era visível que não existia o interesse em aprovar a lei. Com a mobilização pública que ocorreu, juntando mais de 1 milhão de assinaturas, não houve outra saída”, conclui.
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