Campanhas reciclam clichês para atacar adversários
Para especialistas, a troca de acusações não é tão forte e serviria apenas para mobilizar as próprias militâncias
Reforçar estereótipos negativos dos adversários tem sido a estratégia preferida de ataque na largada das campanhas para presidente da República e governador do Paraná. Na disputa nacional, José Serra (PSDB) e o vice Indio da Costa (DEM) vinculam o PT às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), enquanto na estadual Beto Richa (PSDB) liga o rival Osmar Dias (PDT) ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Do outro lado, a arma é lembrar o histórico de privatizações feitas pelos tucanos.Nenhum dos argumentos é novidade. No segundo turno de 2006, Lula (PT) e Roberto Requião (PMDB) contrapuseram Geraldo Alckmin (PSDB) e Osmar Dias com discursos de defesa das empresas estatais. Na avaliação de especialistas, a nova onda de clichês não é tão forte e tem alcance apenas para mobilizar as próprias militâncias. “Se perguntarem para o eleitor médio o que é Farc, muita gente vai dizer que é aquilo que corta bife”, diz o professor de comunicação política Carlos Manhanelli, da Universidade de Salamanca (Espanha).
Depois de ter feito associação dos petistas aos guerrilheiros colombianos no último sábado, Indio da Costa voltou ao tema anteontem. Em viagem ao Rio de Janeiro acompanhado de Serra, ele insinuou uma conexão entre o partido e o Comando Vermelho, maior organização criminosa do estado. “A gente vive aqui no Rio de Janeiro, no meio de uma guerrilha urbana alucinada por conta do narcotráfico. Veja só: PT e as Farc. As Farc e o narcotráfico. O narcotráfico e o Rio de Janeiro, o Comando Vermelho, com indícios muito claros de relacionamento”, disse.
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No mesmo dia, em Goiânia, Serra citou declarações do líder sem-terra João Pedro Stedile para fustigar os petistas. “O dirigente principal do MST [Stedile] disse que todo o MST deve apoiar a Dilma porque no governo dela eles vão poder agitar mais e invadir mais.” O PT não polemizou sobre a questão, mas contra-atacou com uma tentativa de desconstrução da tese de que Serra seria o “pai” dos medicamentos genéricos.
“É importante atribuir a autoria [da criação dos genéricos] a quem de direito”, disse Dilma, referindo-se ao ex-ministro da Saúde Jamil Haddad. Filiado ao PSB [partido que compõe a coligação de Dilma], Haddad foi ministro no governo Itamar Franco, entre 1992 e 1995.
Para o cientista político Fernando Abrucio, da Fundação Getulio Vargas de São Paulo, o exagero no uso dos estereótipos pode prejudicar a própria campanha. Segundo ele, Serra e Indio da Costa exageraram no elo entre as Farc e o PT. “Eles estão usando um discurso dos tempos da Guerra Fria e correm o risco de afastar alguns eleitores que não estão dispostos em votar na Dilma, mas que também não aprovam um posicionamento tão radical.”
Autor de 11 livros sobre marketing eleitoral e presidente da Associação Brasileira de Consultores Políticos, Carlos Manhanelli diz que o que definirá o voto dos indecisos é a avaliação geral dos governos Fernando Henrique Cardoso e Lula. Além disso, os eleitores estariam mais preocupados com propostas sobre saúde, educação e segurança pública. Na mesma linha, Abrucio diz que a chave para vencer a eleição presidencial será apresentar uma proposta de mudança que não coloque em risco o bem-estar conquistado nos últimos anos.
Na sucessão estadual, o cientista político Ricardo Costa de Oliveira, da Universidade Federal do Paraná, avalia que os ataques do começo da campanha são uma tentativa de diferenciação ideológica. Ele lembra que todos os candidatos a cargos majoritários nas chapas de Beto Richa e Osmar Dias já estiveram juntos no passado. “Até o final do prazo legal discutiu-se a possibilidade de ambos estarem juntos na mesma coligação, o que gera uma confusão muito grande na cabeça do eleitor.”
Ontem, Osmar voltou a criticar o apoio de Beto à privatização do Banestado e à tentativa de venda da Copel. “Não existe espaço para quem pensa em vender as empresas públicas do Paraná, nem para aqueles que votaram a favor de sua venda”, afirmou, em entrevista à rádio CBN. Para Oliveira, essa é uma tentativa de consolidar a complexa aliança com o PT, já que Osmar tem uma trajetória política ligada ao agronegócio e aos ruralistas.
“Ele usa esses estereótipos para rumar para a centro-esquerda, assim como o Beto quer demarcar seu espaço na centro-direita. É necessário firmar alguma ideologia até mesmo porque eles têm as mesmas origens políticas”, diz o professor da UFPR.
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