O modo como você recebe uma informação influencia - e muito - a sua decisão. Em época de eleição, é bom ficar atenta a maneira com que uma mesma questão é apresentada influencia a posição que tomaremos a seguir. Conhecido como “Efeito Framing”, este tipo de ocorrência contraria a racionalidade e, com frequência, afeta nossas decisões. Segundo um artigo publicado no site do jornal espanhol El Pais, uma pesquisa realizada nos Estados Unidos demonstrou como podemos ser condicionados, tudo depende de como uma informação é passada. A experiência consistia na apresentação de uma mesma intervenção cirúrgica e suas porcentagens de vida ou morte a dois grupos de médicos. O primeiro grupo foi informado de que o índice de sobrevivência para uma determinada operação era de 93%. Já o segundo foi informado de que a mesma operação possuía um índice de morte de 7%. Embora ambas as descrições apresentem a mesma ideia, os profissionais que receberam o dado positivo – 93% de chances do paciente sobreviver – se mostraram mais dispostos a recomendar a operação aos seus pacientes. De acordo com Cássia Roberta da Cunha Thomaz, especialista em análise do comportamento e professora da Faculdade de Psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, as palavras sobrevivência e morte – positiva e negativa – possuem um efeito especial sobre quem as recebe. “Uma palavra possui o poder de mudar uma motivação, e de uma forma muitas vezes inconsciente”, explica. E podemos responder a elas de maneira automática, dependendo da associação que nosso cérebro realiza. Para Cunha, as palavras viver e morrer são primordiais e de muito mais efeito do que a porcentagem que as acompanha. “O médico está sensível a isso diariamente e trabalha por conta da sobrevivência, então ele se torna mais motivado quando não está associado a uma situação que esteja ligada à morte”, afirma a especialista. Metade cheio ou metade vazio? Autores do termo “Efeito Framing”, dois especialistas em comportamento e ciência cognitiva, os israelenses Daniel Kahneman e Amos Tversky, realizaram diferentes investigações ao longo dos anos e mostraram que este tipo de conduta do nosso cérebro ocorre principalmente pelo viés positivo ou negativo que recebemos. Por exemplo: “Pedro é inteligente, mas não presta atenção na aula” dá mais credibilidade a Pedro do que “Pedro não presta atenção na aula, mas é inteligente”. Isso porque o cérebro acaba antecipando o que virá a seguir de maneira quase automática. Em época de eleições, o especialista em marketing político e mídias sociais Marcelo Coutinho, professor de pós-graduação da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo, afirma que é possível perceber tal “truque” em diferentes divulgações de pesquisas eleitorais. “Tudo é uma questão da maneira como você apresenta um determinado dado”, afirma Coutinho. Segundo ele, se a porcentagem de um candidato político em relação ao outro cresce num período curto, uma semana, por exemplo, esta pesquisa pode ser divulgada dizendo que o primeiro abriu vantagem sobre o segundo, quando, na verdade, eles só flutuaram dentro da margem de erro. “O espaço para interpretação é vasto”, completa. Emoção é tudo mas de acordo com Carlos Manhanelli, consultor em comunicação, marketing e propaganda política e autor do livro “Estratégias Eleitorais e Marketing Político” (Summus Editorial), existem diversos fatores que podem contribuir para o eleitor determinar o próprio voto. “Imagem, ideologia, simpatia, presença física e história de vida são alguns deles, e a maioria afeta o aspecto emocional, e não o racional”, afirma Manhanelli. De acordo com o consultor, embora o argumento para votar num candidato seja racional, a emoção tem um peso muito forte e influencia bastante na decisão. Para entender melhor, Manhanelli cita o livro “O Estado Espetáculo”, do teórico francês Roger-Gérard Schwartzenberg, em que são determinadas quatro das possíveis imagens que o político deve ter atrelada: o grande pai, o líder charmoso, o herói ou o homem simples. “Estas imagens determinam o fator emocional”, explica. Mas não é somente desta forma que o eleitor pode se entusiasmar mais com este ou aquele candidato. Manhanelli exemplifica com as possibilidades de descrição que podem ocorrer sobre a última pesquisa informando o empate entre Serra e Dilma, por exemplo. “Eu posso dizer ‘Serra cai três pontos, mas continua na liderança’ ou então ‘Dilma avança e Serra cai’. Estas frases vão influenciar emocionalmente também para um lado ou outro”, afirma. De acordo com o especialista, não pelo resultado em si, mas pela forma como a pesquisa é apresentada. Fugindo do Efeito Framing segundo Coutinho, este tipo de influência política é alvo de controvérsias e não existe um estudo conclusivo a respeito. “Aparentemente, o número de pessoas influenciadas não é tão grande, mas quanto mais disputada uma candidatura, mais importante este efeito se torna”, conta o especialista. Porém, ele dá a dica para tentar fugir das possíveis armadilhas que nosso cérebro pode nos pregar quando nos deparamos com uma afirmação mais tendenciosa. “Se você procurar uma pesquisa diretamente no site de cada candidato, vai encontrar a interpretação deles. O indicado é ler o relatório que sai com a interpretação oficial da pesquisa”, revela Coutinho.
Por: Renata LossoEspecial para Delas.iG