quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Liturgia da queda: o 'jeito mineiro' de Dilma demitir

Em todas as crises, presidente agiu para que os próprios acusados pedissem demissão. Estratégia evita que sua imagem seja atingida, dizem especialistas

Veja

26/10/2011 - 21:27

Adriana Caitano


Os mineiros costumam dizer que o pior inconveniente é melhor que a melhor das brigas. A frase, lembrada pelo cientista político e professor da Universidade de Brasília (UnB) Octaciano Nogueira, ajuda a entender o comportamento da presidente Dilma Rousseff nas sucessivas crises que enfrenta desde que assumiu o governo, no início de 2011. Para evitar arranhões em sua imagem, ela seguiu o mesmo ritual na queda dos cinco ministros defenestrados por envolvimento em escândalos: no lugar de demitir, agiu nos bastidores para que o próprio alvo pedisse para sair. Uma liturgia que a livra de sujar as próprias mãos.
Dilma não tem nenhuma experiência como governante e ainda está aprendendo a lidar com a rotina de ocupar o posto mais importante do Executivo. Mas conta com a história a seu favor. No extenso anedotário político brasileiro, políticos como Juscelino Kubitschek e Tancredo Neves (por acaso também mineiros) adotaram um estilo peculiar de gerenciamento de crise. “Os mineiros não são de confrontar, são de conciliar, não querem arestas, sempre entendimento”, comenta. “Quando você demite alguém, mesmo que involuntariamente se cria um conflito, então o cerimonial para enterrar uma carreira política é manter a pessoa em fogo brando para que ela se sinta na obrigação de abandonar o posto.”
O especialista em marketing político e presidente da Associação Brasileira de Consultores Políticos, Carlos Manhanelli, reforça a tese de Nogueira relatando uma história que diz ter ouvido de Tancredo Neves, quando governador de Minas Gerais. Segundo ele, antes de o mineiro tomar posse, um homem começou a avisar aos jornais que seria convidado para ser o secretário de Fazenda.
Quando Tancredo assumiu, ele disse que ficaria chato se não fosse indicado para o cargo, já que todos os jornais diziam que isso aconteceria. “A resposta do governador foi simples: ‘Então anuncie no jornal que eu te convidei e você não aceitou’, disse, demonstrando que o governador ou presidente sempre tem que ser preservado”, diz o especialista.

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